Selo: Arquivo IMF – Capítulo 4
Dizem que Missão: Impossível 3, dirigido por J.J. Abrams, é o ponto de virada onde a franquia se moldou ao que conhecemos hoje. No entanto, é em Protocolo Fantasma que essa reinvenção realmente se consolida. Sob a direção de Brad Bird e com roteiro de Josh Appelbaum e André Nemec, o filme encapsula os signos estabelecidos nos três capítulos anteriores, resgatando e reestruturando a abordagem do universo de Ethan Hunt e da IMF.
Brad Bird, conhecido por suas animações aclamadas como O Gigante de Ferro (1999), Os Incríveis (2004) e Ratatouille (2007), traz para o live-action sua habilidade em construir narrativas centradas em equipes disfuncionais que se unem diante de ameaças maiores. Essa expertise se traduz em Protocolo Fantasma, onde Ethan Hunt é apresentado não apenas como um agente impetuoso, mas como alguém moldado pelo amor e pela busca por dignidade, contrastando com sua representação anterior.

Um dos grandes trunfos do filme é o tom cômico que se destaca graças à presença de Simon Pegg, uma das melhores adições à equipe. Seu personagem, Benji Dunn, traz um alívio cômico natural que não compromete o peso da trama. Pegg consegue moldar a dinâmica ao seu redor, injetando leveza sem nunca banalizar o perigo. Essa abordagem é especialmente notável nas sequências que mesclam ação, adrenalina e humor de maneira equilibrada, seja pela fisicalidade cômica ou pelas tiradas precisas que aliviam a tensão. Essa combinação faz com que a equipe ganhe mais carisma e ressignifica a interação entre os personagens.
A trama se intensifica com a explosão do Kremlin, que coloca a IMF sob suspeita e leva à ativação do “Protocolo Fantasma”, desautorizando a agência. Essa situação cria uma crítica velada à culpabilidade estadunidense, mostrando como, mesmo em um país patriota, o sistema pode virar contra seus próprios agentes, transformando-os em fantasmas — vivos, mas invisíveis. A alegoria dos conflitos internacionais e seus desdobramentos políticos é habilmente arquitetada, evitando discursos armamentistas e concentrando-se na figura heróica, porém não santificada, de Ethan Hunt, um agente das sombras que não pertence a lugar algum.

A parceria entre J.J. Abrams na produção e Brad Bird na direção resulta em uma fluidez aventuresca que mantém o ritmo constante. Cada cena contribui para a construção dos personagens, especialmente Ethan e sua equipe, e para a exploração dos múltiplos pontos de vista sobre os eventos em curso. Esse dinamismo culmina em uma das sequências de ação mais memoráveis da década de 2010: a escalada do Burj Khalifa. Tom Cruise, como showman da sétima arte, realiza a façanha sem dublês, e a cena é filmada de maneira magistral, com a câmera buscando magneticamente Ethan e incorporando o sentimento voraz de completude da missão.
Missão: Impossível – Protocolo Fantasma reinventa, resgata e reestrutura as ideias da franquia, alocando cada uma em personagens, dispositivos ou problemáticas da trama. O filme traz elementos do noir, do classicismo e da corrida a pé do herói-vilão, utilizando perseguições como ferramentas do ambiente que tornam os personagens reais o suficiente para tomar decisões próprias. O design de produção esbelto evoca, de cenário em cenário, o tom de espionagem, comédia, sensualidade, tensão e adrenalina. Tudo está em seu devido lugar neste capítulo da franquia, estabelecendo a linguagem que será concretizada nos filmes subsequentes.
