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Memorias da repressão como retrato social – Malu (2024) Review

Desde sua cena inicial Pedro Feire retrata sua mãe com apenas falas inigualáveis de uma personagem moldada pela repressão, imprimindo na sua realidade geracional uma agressividade passiva travestida de libertinagem escancarando uma cicatriz de um época que vive as margens de um quase retorno diabólico, mesmo na sua figura materna que tanto julga a escolha de vida da filha, e o seu próprio rancor com a geração da filha que não faz barulho, que é muito quieta e não dá valor a arte do teatro.

Teatro esse que está, estará e esteve presente em toda sua passagem na terra através de um olhar apaixonado pela arte, mas não pela sua própria vida como se as memórias áureas de uma distante realidade fossem equivalentes e reais dentro de outra lógica social, humana e cultural. Aqui os planos e locação são diálogos pertinentes da sobrevivência e resistência da cultura e arte através de uma personagem errática, mas muito apaixonante e correlacionável.

Toda suas nuances e a vazão do trauma como forma de exílio existencial são dialogadas para além de apenas linguagem cinematográfica, mas sim na brilhante Yara de Novaes trazendo uma imagética viciante e inerente sem que precise de diálogos verborrágicos. Uma eloquência corpórea dentro da lógica teatral da atuação que é lindo de acompanhar e como a presença dela molda os espaços onde ela se encontra, de acordo com seus sentimentos.

A trama enfatiza a tumultuosa relação entre Malu e sua mãe, Lili, com frequentes confrontos e intensas trocas de acusações, revelando uma combinação paradoxal de afeto e crueldade. A chegada de Joana, filha de Malu, intensifica esses conflitos, permitindo que Freire aborde temas como rebeldia, traumas herdados e opressão familiar e social. As atuações das três protagonistas se destacam por capturar a intensidade emocional e a instabilidade dessas personagens, que oscilam entre o amor e a hostilidade, enquanto discutem questões de política, identidade e gênero.

Com um foco na luta de Malu para resgatar sua dignidade e legado artístico, o filme evoca referências cinematográficas como Grey Gardens e Bad Living, acrescentando um contexto brasileiro que ressalta tanto a vulnerabilidade quanto a resiliência da protagonista em uma sociedade conservadora. O filme também se sobressai pelo tom claustrofóbico e uma estética visual que intensifica a tensão entre as protagonistas, evidenciando o ciclo de conflito e afeto que define as relações entre essas mulheres.

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