Confesso: Lilo & Stitch nunca esteve entre as minhas animações favoritas da Disney. Respeito seu valor cultural e emocional, mas nunca tive apego afetivo pela história original. Foi justamente por isso que cheguei ao remake em live-action com uma dose sincera de expectativa. Talvez uma nova proposta, com outro olhar, pudesse finalmente me conquistar.
Mas não foi o caso.
O novo Lilo & Stitch tenta equilibrar homenagem e reinvenção, mas tropeça nos dois caminhos. Ele se prende às cenas e falas icônicas do original como um escudo nostálgico — e, ao mesmo tempo, altera personagens e subtrai temas importantes com medo de parecer ousado demais. O resultado é um filme confuso, corporativo, limpo e absolutamente previsível.
O visual impressiona em alguns momentos, especialmente na recriação de Stitch, que continua sendo um personagem magnético. Mas isso não basta. As relações entre os personagens perdem força, e a condução emocional parece sempre artificial. O tom rebelde do original, que destoava da fórmula Disney, foi totalmente engessado. A crítica à presença invasiva de turistas no Havaí desapareceu, a relação com as autoridades foi suavizada, e tudo o que antes era incômodo — no bom sentido — agora é politicamente correto e asséptico.

Pior do que isso são as decisões criativas difíceis de justificar. A remoção do antagonista Gantu enfraquece a tensão, e Jumba, antes um cientista excêntrico que ganhava redenção, é transformado em vilão principal, sem nuances. Pleakley foi descaracterizado e “heteronormatizado”, perdendo seu traço mais marcante. Tudo isso, somado à inclusão de novos personagens que não acrescentam nada ao enredo, apenas desestrutura a trama que já era simples — mas funcional — no original.
O final do remake até tenta encontrar um novo desfecho, separando Lilo e Nani fisicamente, mas mantendo o afeto vivo com soluções mágicas e convenientes. A mensagem de “ohana” se mantém, mas com uma diluição emocional que compromete o impacto. E por mais que o filme tente expandir temas como autonomia feminina e autocuidado, tudo isso aparece embrulhado em um roteiro raso que não sabe como sustentar tantas mudanças sem perder o fio.

E aqui está o ponto: Lilo & Stitch (2025) não é um filme horrível — mas também não tem motivo para existir. É mais um reflexo da atual Disney, presa à própria sombra, revivendo sucessos com brilho artificial. Um produto desenhado para o algoritmo do streaming, para ser assistido por crianças que talvez nem saibam que existe uma versão 2D muito mais viva e corajosa.
Se era pra reinventar, que reinventasse de verdade. Do jeito que está, esse remake só faz a gente querer correr de volta para o original.