— (A indicação de Gleisi) Não será boa para o presidente Lula. Eu adoro a Gleisi, a Gleisi é minha amiga, não tenho nada contra ela, mas ela é militante — disse Aziz em entrevista ao portal Uol nesta quarta-feira.
O senador também questionou como Lula poderá colocar no governo “uma ministra que faz críticas a outro ministro”.
— Gleisi faz críticas ao Haddad… Como é que você vai botar uma ministra que faz crítica a outro ministro? Me explica aí isso. Como é que você faz isso, hein? Eu queria entender o raciocínio — acrescentou Aziz.
Lula avalia nomear Gleisi na vaga de Márcio Macêdo, também do PT, por considerar que a petista tem boa relação com movimentos sociais e já demonstrou capacidade de mobilização com a esquerda e na defesa do governo. A pasta comandada por Macêdo é responsável pela interlocução com a sociedade civil.
Internamente, a ida da presidente do PT ao governo é considerada uma forma de resolver a sucessão da legenda. Para aliados da candidatura de Edinho Silva à presidência do PT, é fundamental que Lula encaminhe o futuro de Gleisi como parte do processo de eleição do novo comandante do partido. Auxiliares do presidente apontam que a ida de Gleisi para o governo desestimularia o surgimento de uma outra candidatura que pudesse ampliar o racha da legenda.
Sinalizações do PSD
A fala do senador ocorreu em meio a críticas de integrantes do PSD ao governo Lula. Também nesta quarta-feira, o presidente do partido, Gilberto Kassab, disse que uma reeleição do presidente Lula não seria fácil durante um evento em que também mirou no ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Para Kassab, o sucesso da economia depende de um ministro forte na área, que consiga se impor no governo, o que não seria o caso de Haddad.
Em outra sinalização do PSD ao governo Lula, o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), não participou e não enviou representantes a uma cerimônia para anunciar investimentos para obras em estradas do Paraná. Em meio à ausência, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, cobrou “reciprocidade” de governadores da oposição durante cerimônia no Palácio do Planalto nesta terça-feira.
— Às vezes, é difícil para alguns governadores prisioneiros da polarização que não reconhecem, mas o presidente Lula segue republicano e trabalhando sempre em parceria, porque o Brasil pode fazer muito mais — disse Mercadante, que evitou citar nomes.
Ratinho Júnior costuma ser apontado como possível candidato do PSD para a disputa presidencial de 2026. O partido tem, hoje, três ministérios na gestão Lula (Minas e Energia, Agricultura e Pesca), mas convive com insatisfações internas de políticos que não conseguem emplacar seus apadrinhados em cargos da máquina federal e, na outra ponta, de uma ala que resiste a aderir à gestão petista, caso do governador.
O partido tem negociado espaços no governo diante da possibilidade de reforma ministerial. Como mostrou O GLOBO, Kassab indicou a integrantes do governo que deseja trocar a pasta da Pesca, que tem André de Paula à frente, pela do Turismo, sob a chefia de Celso Sabino, do União Brasil. O Turismo tem um orçamento três vezes superior ao da Pesca, de acordo com a previsão deste ano enviada ao Congresso e ainda não votada. O volume inclui a possibilidade de direcionar verbas para atividades que atraem atenção do eleitorado, como shows e eventos.