A forma como sobreposição da narrativa, a profusão estilizada de um artista que declara por imagens sua frustração como idealização de um projeto nada protocolar, mas sim como registro onírico da utopia e seus devaneios futurísticos abraçando uma lógica terrena, sem que forças estruturais vanguardistas que se debruçam à falsa nostalgia como método de vida, perdendo a identidade sendo apenas cópias como se fosse a salvação da humanidade.
A materialização ímpar de Coppolla para a posteridade de um recorte não do tempo, mas sim da contemporaneidade e sua linguagem fúnebre de inevitáveis fins semanais de algo como a morte do artista que não persegue o tempo, mas sim para ele para si como se nada estivesse límpido o suficiente para respirar e galgar uma fantasia, uma babilônia que no fim das contas se fecha no terreno, no material, na contradição e crescimento coletivo dos ideais. No turvo tempo do tempo, estamos apenas flutuando, invisíveis e transparentes.
O dialogo sobre um sonhador que é visto como um alguém distante e sem perspectiva de vida, a sociedade como alegoria da nossa geração e da nossa ignorância como se todos ali estivessem fazendo uma leitura metalinguística do filme, algo inominável que nem sei como definir tal experiência de espacialidade em um lugar fictício como artefato mais precioso de toda a obra, um lugar inabitável, mas sonhador, e porque não. Crível.
Um sonho utópico com conceitos históricos de Roma e sua fascinação de trabalhar naqueles personagens a margem irreparável de caricaturas, fazendo com que o tom teatral do longa seja de bom grado e justaposto em posição de frente ao que Megalopolis se molda em toda sua rodagem, como seus seguimentos e os devaneios do nosso personagem principal como narrativa e o dispositivo, literal, que nos leva ao lado experimental do filme, transbordando amor por aquelas imagens.
Gosto de como Coppolla encarna quase um personagem dentro daquilo tudo, meio que renegando o publico à passividade de um cinema artesanal em que ele mesmo está modelando e moldando para que todo o espetáculo ocorra; Um sentimento que vem muito de sua mão autoral e de um filme encorpado que nunca para, uma trama interligada, empolgante e cheia de estímulos brincando com algo mais terreno e atual, com a futurologia de Caesar, brilhantemente interpretado por Adam Driver.
O que mais brilho os olhos mesmo aqui em Megalopolis é o risco disso tudo estar pronto, o quanto a dialética e dicotomia tem um papel central e frontal para a indústria, além de ficar para a posteridade como material de estudo de narrativa, de artes cênicas e suas tantas maneiras de dialogar a forma como maneira quase textual dentro da trama, com muita identidade e cautela em no que mexer, onde mexer e quando vai mexer.
No final das contas, Megalopolis se torna um marco na historia do cinema cheio de escândalos e trunfos, de pesares, criticas positivas e negativas, tudo que ronda desde que o mundo é mundo, uma obra inesquecível. Esse universo tem um senso inenarrável de nos pegar pela mão e nos jogar em um jogo politico que vai além de ideais, de cartilhas ideológicas imprimidas em um longa, isso aqui é uma obra de arte contemporânea, seja quando você estiver assistindo.