Aqui temos um belo melodrama que passeia fluidamente em vários sentimentos pontuais para que sejamos fisgados pela trama como se tudo partisse da lógica da paisagem e do cenário árido e melancólico com tons de horror e cheio de identidade. Um road movie em uma estrada de incertezas e subterfúgios que parece nunca ter fim.
Antônio, vivido por Matheus Nachtergaele em poucos minutos de filme tem uma conversa com um caminhoneiro que logo nos conta todo o background daquele personagem, de onde veio e do que está atrás, e isso é uma lógica que a narrativa e texto do filme abraçam pra contar a história dos personagens e construir as personas deles sem que o filme pare para nos contar isso.
As alegorias que, portanto, são importantíssimas para a trama e ajudam a esse filme na sua composição e mise en scene fazem com que o ritmo e progressão andem juntos, mesmo que os próprios personagens cada vez mais estejam presos no lugar onde estão, com um único lampejo de felicidade e inocência que é o que os conecta.
Me remeteu muito à “O que Ficou para Trás”, produzido pelo Netflix no ano de 2020 que muito se fala sobre o seu lugar no mundo, o que foi perdido, o que você irá perder e fantasmas do futuro que você está criando no presente que se tornará o seu passado. Que vezes mais pesado é o Céu flerta aqui usando a casa em que eles estão como um lugar quase sobrenatural com uma força ancestral que infelizmente acaba por ficar no caminho da narrativa.
Narrativa essa que acaba por nos dar não só sofrimento e a busca pela mínimo em cenas de tortura sexual para com a mulher, que é onde para mim, perde força, e não pelo ato em si, mas sim em como o filme abraça o impacto dessa tragédia anunciada em cenas gráficas e expositivas como muleta pra dar substância e estímulo sendo que no seu próprio universo no rádio em alguns momentos se é falado sobre um assassino que vem fazendo vítimas.
Gosto de como Ana Luiza Rios trabalha com a fisicalidade pra construir sua personagem falando as vezes apenas com o olhar e em como seu corpo fica com peito estufado, ou diminuta diante de uma realidade difícil de mudar na qual ela se encontra.
Mais pesado é o céu é um longa que se mantém astuto e lindo durante toda sua duração, mas que tropeça por não nos fazer torcer para com nossos personagens indo para um caminho de tortura que mais faz você questionar a escolha criativa de como abordar o sofrimento em meio a tantos dispositivos que foram criados durante o filme. Mas com certeza Petrus Cairy é um diretor para ficar de olho em seus próximos trabalhos.