O Clube das Mulheres de Negócios, de Anna Muylaert, se apresenta como uma obra que combina humor corrosivo, crítica social e uma estética tropical vibrante, refletindo as contradições de um Brasil contemporâneo. Retomando o tom sarcástico de seus primeiros trabalhos, Muylaert constrói uma narrativa que transita entre o grotesco e o cômico, explorando questões de gênero, poder e desigualdades de forma provocativa. No entanto, ao longo de sua trajetória, o filme parece se emaranhar em suas próprias escolhas estilísticas, transformando-se, em alguns momentos, em uma sátira de si mesmo.
A grande força do longa está na construção de personagens deliberadamente exagerados. Katiuscia Canoro entrega uma performance marcante como uma “redpill” de gênero invertido, mergulhando na caricatura com energia selvagem e domínio cênico. Sua personagem encapsula a essência satírica da obra, desafiando os limites entre o riso e o desconforto. Rafa Vitti, por outro lado, surpreende ao trazer vulnerabilidade ao seu papel, complementando as dinâmicas de poder que permeiam a narrativa. Esses contrastes dão ritmo à história, tornando-a instigante em sua mistura de humor e tensão.
Contudo, é justamente na tentativa de equilibrar o absurdo e a crítica que o filme se perde. A necessidade de explicitar suas ideias – seja por meio de diálogos que reforçam o óbvio ou de imagens que sublinham o que já está claro – dilui a força de sua mensagem. A sátira, que inicialmente se posiciona como afiada e certeira, começa a escorregar para o exagero sem propósito, aproximando-se de uma paródia de sua própria proposta. Os momentos mais didáticos, que tentam direcionar o espectador para interpretações específicas, acabam soando como um descompasso entre o discurso ambicioso e a execução prática.
Além disso, o excesso de personagens e subtramas contribui para a sensação de dispersão. Há muitas ideias interessantes no filme, mas nem todas encontram o espaço necessário para serem desenvolvidas de maneira significativa. Em meio ao caos narrativo, algumas figuras se tornam apenas rascunhos, e a sátira, que deveria ser o fio condutor, perde força à medida que o longa tenta abraçar mais do que consegue sustentar.
Por outro lado, essa natureza caótica e autorreferencial também pode ser interpretada como uma escolha deliberada de Muylaert, um reflexo da fragmentação e confusão do próprio mundo que o filme retrata. Ainda assim, o resultado final é ambíguo: em alguns momentos brilhante, em outros excessivo e autoconsciente. O Clube das Mulheres de Negócios é, assim, uma obra fascinante por suas intenções e ousadias, mas irregular na execução, oferecendo um retrato tão incisivo quanto confuso de uma sociedade em colapso.