Selo: Arquivo IMF – Capítulo 7
Assistindo pela terceira vez desde a estreia nos cinemas e depois da revisita de toda a saga, devo confessar que Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1 é o capítulo da franquia mais comercial e até mesmo fora da curva. E não que isso seja algo de todo mal — adoro o filme — mas, dentre todas as escolhas que Christopher McQuarrie poderia tomar, essa de retornar quase à linguagem de Brad Bird em Protocolo Fantasma, abraçando a aventura depois de entregar dois filmes mais sisudos com sua identidade cinematográfica marcante, parece um passo atrás.
Em Nação Secreta e Efeito Fallout, McQuarrie construiu uma ação constante, cheia de sequências robustas que contavam também a história, moldando os ambientes para tais cenas. Aqui, em Acerto de Contas Parte 1, parece que todas essas sequências estão descoladas do que o filme está criando em seu discurso sobre inteligência artificial, automatização da arte e o quanto os personagens estão fora dessa equação, lutando contra um mal que assola a humanidade.

E é aí que reside a força do filme: um roteiro inteligente, ágil e marcado pela pontualidade ao abordar o uso da IA, a viabilização do aprendizado automático sobre o corpo humano e o esvaziamento da persona. A produção consegue comunicar bem o quanto está gritando por liberdade artística, denunciando o aprisionamento dos olhos em todos os cantos, o estado permanente de estar “online” e seus malefícios. Os personagens são apresentados como meros dispositivos frente ao conhecimento absoluto que “A Entidade” comporta em seu HD.
Apesar do meu breve descontentamento com a escolha dessa abordagem mais comercial, amo as sequências em que todos os personagens estão juntos, interligados pela urgência da situação. Isso dá ritmo e fluidez a um filme de quase três horas que acaba num piscar de olhos.
Hayley Atwell é uma ótima adição ao elenco, quase fazendo um contraponto ao Ethan “pentelho” que está em todo lugar, sempre com um sorriso no rosto e um comentário jocoso. Ela interpreta Grace, uma personagem que toma conta da tela durante boa parte da duração e que, em todas as cenas que protagoniza, traz leveza e carisma. Sua fisicalidade cômica impressiona, criando um equilíbrio interessante com a seriedade de Ethan, que enxerga todas as situações com mais peso.

No entanto, a sensação de que todas as vidas estão em perigo — repetidamente reforçada pela ação — acaba criando um tom mais aventuresco e cômico que destoa do universo estabelecido em Fallout. Isso causa uma ruptura de ideias que fragiliza a conexão entre os eventos. O texto, nesse caso, se torna a parte mais interessante e fio condutor das ideias fantásticas dos dispositivos durante o filme: a chave, o submarino Sevastopool, o passado de Ethan com o vilão Gabriel e tantas outras ligações externas que provavelmente se conectarão no último filme.
No fim das contas, Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1 é um filme que aposta no dinamismo e no carisma do elenco para sustentar uma trama que abraça a aventura e a ameaça digital. Uma escolha arriscada que, mesmo fugindo um pouco da essência dos últimos capítulos, mantém a adrenalina característica da franquia.
