Jorge Bodanzky, em “As Cores e Amores de Lore”, se propõe a construir um retrato íntimo e afetivo de Eleonore Koch, mas em sua abordagem, há algo de asséptico que impede o filme de atingir camadas mais profundas. No início, Bodanzky parece interessado em entrelaçar sua própria história com a de Eleonore, buscando paralelos geracionais e culturais, porém logo abandona esse caminho, resultando em um documentário que se mantém bonito e bem elaborado, mas sem a intensidade emocional que poderia carregar.
A relação entre diretor e personagem se estabelece de maneira cuidadosa, com Bodanzky assumindo um papel discreto, sendo mais um condutor gentil do que um participante ativo na narrativa. Eleonore, por sua vez, oferece reflexões sobre sua arte, sua vivência como mulher em um meio dominado por homens e os dilemas que enfrentou ao longo da vida. Mas há uma contenção na maneira como o filme escolhe apresentar essas questões. Há momentos que precisavam de mais impacto, de mais tensão, de um olhar que realmente se sujasse na profundidade do que está sendo dito. Sequências que deveriam exalar urgência acabam apenas ilustrando sua história sem mergulhar nela.
Apesar disso, o longa cresce quando permite que a protagonista simplesmente seja. O documentário ganha força quando Eleonore divaga sobre sua trajetória e, nesses instantes, o espectador sente um vislumbre de algo mais sincero e potente. O filme poderia se beneficiar de uma exploração mais profunda de certos temas que surgem organicamente, como as críticas misóginas que recebeu ao longo da carreira ou sua fala impactante sobre a forma como respondeu às limitações impostas a ela: “Se eu não podia ser artista, nada me impedia de ser mulher”. Esse trecho, que poderia ser um ponto de ruptura e reflexão, passa quase despercebido, pois Bodanzky opta por seguir adiante sem se deter nesses instantes de verdadeira complexidade.
Há um olhar cuidadoso na forma como o filme se estrutura, utilizando um vasto acervo pessoal para compor sua narrativa. Fotografias, cartas e diários ajudam a dar textura à história, mas o filme parece hesitante em se aprofundar nos dilemas que eles poderiam evocar. Há um desejo evidente de celebrar a vida e o legado de Eleonore Koch, mas o documentário parece mais interessado em contemplá-la à distância do que em realmente investigá-la.
No final, “As Cores e Amores de Lore” é um filme que emociona pela figura magnética de sua protagonista, mas deixa um gosto agridoce pela falta de arrojo em sua execução. Bodanzky tem uma obra elegante e respeitosa em mãos, mas poderia ter permitido que sua câmera fosse mais ousada, mais provocativa, mais viva. Eleonore Koch, com sua trajetória de desafios e conquistas, merecia um filme que arriscasse mais para estar à altura de sua história.