O apresentador Carlos Roberto Massa, conhecido como “Ratinho”, está no centro de uma nova polêmica após críticas à realização da 30ª Conferência do Clima sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será reallizada em novembro deste ano em Belém (PA). Durante um programa veiculado na Rádio Massa FM, de sua propriedade, o comunicador questionou o investimento previsto para o evento, que deve trazer representantes de quase 200 países para debater mudanças climáticas na capital paraense.
“Qual a necessidade de nós fazermos essa COP30, gastarmos bilhões em Belém do Pará, num lugar onde falta comida para a população?”, questionou Ratinho. Em seguida, ele classificou a cidade como “sem estrutura” e afirmou que a capital paraense “não é essa cidade maravilhosa para mostrar pro mundo”.
A declaração repercutiu nas redes sociais e entre ativistas e comunicadores da região amazônica, que identificaram no discurso do apresentador uma postura marcada por preconceito, desinformação e visão estigmatizada sobre a Amazônia e seus centros urbanos.
Análise
O jornalista e criativo digital Jorge Bentes, que tem feito reflexões sobre os preconceitos e estereótipos em torno da COP30 em Belém, reagiu à declaração. Para ele, o comentário de Ratinho revela, em três camadas, o despreparo de quem fala sobre o Norte do Brasil a partir de uma lógica excludente e centralizada no eixo Sul-Sudeste.
“O primeiro ponto é um total desconhecimento da região. Um desconhecimento inaceitável vindo de alguém que fala para o Brasil inteiro”, disse Jorge Bentes. “O segundo ponto é o preconceito explícito, inclusive na forma como ele diz ‘Belém do Pará’. A entonação usada poderia facilmente ser trocada por ‘aquele fim de mundo’”, observou.
Segundo Bentes, há ainda uma terceira camada política e econômica por trás da crítica, relacionada ao histórico do apresentador e à posição de seu filho, Ratinho Júnior, atual governador do Paraná. “Ele é um homem do agro. O Paraná, Estado comandado pelo filho dele, é uma das regiões que não apoiam a COP30, talvez por verem a Amazônia apenas como um território subaproveitado. Isso tem tudo a ver com as disputas políticas em curso, inclusive sobre quem ocupará espaço ao lado de Lula nas próximas eleições”, comentou.
Norte à margem
A fala do apresentador também escancara, segundo críticos, uma mentalidade que há décadas marginaliza o Norte do País. Ao reduzir Belém a um lugar sem estrutura, Ratinho repete estigmas antigos, ignorando a complexidade, a diversidade e os esforços locais para colocar a cidade no centro do debate climático global.
“É o típico sudestino esperneando por ter que olhar para o que antes era apenas uma mancha verde no mapa do Brasil”, conclui Bentes. “Belém precisa de investimento, sim, mas também de respeito. É hora do Brasil olhar pra cá com mais empatia, com mais carinho”, finalizou.