Missa de Páscoa, passeio de papamóvel, encontro com vice dos EUA: como foi último dia do papa
abril 21, 2025
/Redação Update
Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, morreu aos 88 anos às 2h35 pelo horário de Brasília, 7h35 pelo horário local, desta segunda-feira (21), informou o Vaticano.
O pontífice, que ocupou o cargo máximo da Igreja Católica por 12 anos, se recuperava de uma pneumonia nos dois pulmões após ter ficado 38 dias internado.
No Domingo de Páscoa (20), Francisco recebeu, pouco antes das celebrações, o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance.
Além disso, o papa também fez uma breve aparição para a bênção Urbis et Orbi na Praça de São Pedro, arrancando aplausos e vivas da multidão.
O papa acenou para os fiéis e fez um pronunciamento breve, com a voz fraca: “Irmãos e irmãs, Feliz Páscoa!”.
Milhares de pessoas presentes explodiram em aplausos quando uma banda militar deu início a uma série de hinos da Santa Sé e da Itália. Francisco acenou da varanda e pediu a um assessor que lesse a benção (veja texto completo).
Após aparecer na varanda, Francisco andou no papamóvel pela multidão na praça de São Pedro.
Ele não celebrou a Missa de Páscoa na praça, delegando-a ao Cardeal Angelo Comastri, arcipreste aposentado da Basílica de São Pedro, que leu seu discurso.
Encontro com o vice-presidente dos EUA
A caminho da basílica, Francisco encontrou-se brevemente com o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, que estava passando a Páscoa em Roma com sua família.
O encontro ocorreu na Casa Santa Marta, residência oficial do pontífice no Vaticano, por volta das 11h30 no horário local (6h30 de Brasília).
A visita aconteceu dois meses após o líder da Igreja Católica criticar duramente a política migratória do governo de Donald Trump.
Em fevereiro, o papa classificou as expulsões em massa de migrantes como uma “grande crise” e alertou, em carta enviada aos bispos americanos: “O que se constrói à base de força, e não a partir da verdade sobre a igual dignidade de todo ser humano, mal começa e mal terminará”
Um vídeo divulgado pela rede de notícias católica norte-americana EWTN mostrou Vance conversando com o papa, que estava sentado em uma cadeira de rodas.
Papa Francisco recebe vice-presidente dos EUA, JD Vance, no Vaticano
Francisco presenteou o vice-presidente americano com uma gravata com o brasão do Vaticano, um terço e ovos de Páscoa para cada um dos filhos de Vance.
“É um prazer vê-lo em melhor estado de saúde”, disse JD Vance ao papa argentino, em vídeo divulgado pelo Vaticano. “Obrigado por me receber. Rezo pelo senhor todos os dias. Que Deus o abençoe”.
No sábado (19), Vance também foi recebido no Vaticano pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, acompanhado por dom Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados e Organizações Internacionais.
Durante o encontro com o cardeal, foram trocadas felicitações de Páscoa. Segundo nota oficial, a reunião foi “cordial” e reafirmou a boa relação bilateral entre a Santa Sé e os Estados Unidos.
“Foi renovado o compromisso conjunto de proteger a liberdade religiosa e de consciência”, afirmou o Vaticano. “Houve uma troca de opiniões sobre a situação internacional, especialmente nos países marcados por guerras, tensões políticas e crises humanitárias, com particular atenção aos migrantes, refugiados e prisioneiros.”
Aparição breve na Páscoa
Debilitado por conta da recuperação de uma pneumonia bilateral, Francisco não celebrou a missa, mas compareceu na sacada da basílica para a bênção Urbis et Orbi. A bênção foi lida por um cardeal.
A Basílica de São Pedro estava repleta de narcisos, tulipas e outras flores doadas pela Holanda em uma manhã fria, porém ensolarada, de primavera.
Francisco apareceu em público apenas algumas vezes desde que retornou ao Vaticano em 23 de março, após uma internação de 38 dias.
Ele não foi aos serviços solenes da Sexta-feira Santa e do Sábado Santo, que antecederam a Páscoa, mas era esperado que comparecesse no domingo, de acordo com o livreto da missa e os planos litúrgicos divulgados pelo Vaticano.
A Páscoa é o momento mais alegre do calendário litúrgico cristão, quando os fiéis celebram a ressurreição de Cristo após sua crucificação.
Este ano, a Páscoa está sendo celebrada no mesmo dia por católicos e ortodoxos, e foi marcada pelo anúncio de uma trégua pascal temporária pela Rússia em guerra com a Ucrânia.
A Páscoa no Vaticano tradicionalmente envolve uma missa e a bênção Urbi et Orbi (em latim, “à cidade e ao mundo”) do papa, um discurso proferido na galeria sobre a entrada da basílica, que geralmente é um resumo dos pontos críticos globais e do sofrimento humano.
Francisco reduziu drasticamente sua carga de trabalho, seguindo as ordens médicas de dois meses de convalescença e fisioterapia respiratória para melhorar sua função pulmonar. Na última aparição, ele ainda precisou de grande esforço para projetar sua voz, e sua respiração continuou difícil.
Antes de domingo, sua maior saída havia sido uma visita à prisão no centro de Roma para passar a Quinta-feira Santa com os detentos. A visita deixou claras suas prioridades enquanto se recupera lentamente: passar tempo com as pessoas mais marginalizadas.
A última mensagem de Francisco para o mundo – Homília de Páscoa
Maria Madalena, ao ver que a pedra do sepulcro tinha sido removida, começou a correr para ir avisar Pedro e João. Também os dois discípulos, tendo recebido aquela surpreendente notícia, saíram e – diz o Evangelho – «corriam os dois juntos» (Jo 20, 4). Os protagonistas dos relatos pascais correm todos! E este “correr” exprime, por um lado, a preocupação de que tivessem levado o corpo do Senhor; mas, por outro lado, a corrida de Maria Madalena, de Pedro e de João fala do desejo, do impulso do coração, da atitude interior de quem se põe à procura de Jesus. Ele, com efeito, ressuscitou dos mortos e, portanto, já não se encontra no túmulo. É preciso procurá-lo noutro lugar.
Este é o anúncio da Páscoa: é preciso procurá-lo noutro lugar. Cristo ressuscitou, está vivo! Não ficou prisioneiro da morte, já não está envolvido pelo sudário e, por isso, não podemos encerrá-lo numa bonita história para contar, não podemos fazer dele um herói do passado ou pensar nele como uma estátua colocada na sala de um museu! Pelo contrário, temos de O procurar, e, por isso, não podemos ficar parados. Temos de nos pôr em movimento, sair para O procurar: procurá-lo na vida, procurá-lo no rosto dos irmãos, procurá-lo no dia a dia, procurá-lo em todo o lado, exceto naquele túmulo.
Procurá-lo sempre. Porque se Ele ressuscitou, então está presente em toda a parte, habita no meio de nós, esconde-se e revela-se ainda hoje nas irmãs e nos irmãos que encontramos pelo caminho, nas situações mais anónimas e imprevisíveis da nossa vida. Ele está vivo e permanece sempre conosco, chorando as lágrimas de quem sofre e multiplicando a beleza da vida nos pequenos gestos de amor de cada um de nós.
Por isso, a fé pascal, que nos abre ao encontro com o Senhor ressuscitado e nos dispõe a acolhê-lo na nossa vida, é tudo menos uma acomodação estática ou um pacífico conformar-se numa segurança religiosa qualquer. Pelo contrário, a Páscoa põe-nos em movimento, impele-nos a correr como Maria de Magdala e como os discípulos; convida-nos a ter olhos capazes de “ver mais além”, para vislumbrar Jesus, o Vivente, como o Deus que se revela e ainda hoje se torna presente, nos fala, nos precede, nos surpreende. Como Maria Madalena, podemos fazer todos os dias a experiência de perder o Senhor, mas todos os dias podemos correr para O reencontrar, sabendo com certeza que Ele se deixa encontrar e nos ilumina com a luz da sua ressurreição.
Irmãos e irmãs, aqui está a maior esperança da nossa vida: podemos viver esta existência pobre, frágil e ferida agarrados a Cristo, porque Ele venceu a morte, vence a nossa escuridão e vencerá as trevas do mundo, para nos fazer viver com Ele na alegria, para sempre. Em direção a esta meta, como diz o Apóstolo Paulo, também nós corremos, esquecendo o que fica para trás e vivendo orientados para o que está à nossa frente (cf. Fl 3, 12-14). Apressemo-nos então a ir ao encontro de Cristo, com o passo ligeiro de Maria Madalena, Pedro e João.
O Jubileu convida-nos a renovar em nós mesmos o dom desta esperança, a mergulhar nela os nossos sofrimentos e as nossas inquietações, a contagiar aqueles que encontramos no caminho, a confiar a esta esperança o futuro da nossa vida e o destino da humanidade. Por isso, não podemos estacionar o nosso coração nas ilusões deste mundo, nem fechá-lo na tristeza; temos de correr, cheios de alegria. Corramos ao encontro de Jesus, redescubramos a graça inestimável de ser seus amigos. Deixemos que a sua Palavra de vida e verdade ilumine o nosso caminho. Como dizia o grande teólogo Henri de Lubac, «bastar-nos-á compreender isto: o cristianismo é Cristo. Verdadeiramente, não há nada mais do que isso. Em Cristo temos tudo» (Les responsabilités doctrinales des catholiques dans le monde d’aujourd’hui, Paris 2010, 276).
E este “tudo”, que é Cristo ressuscitado, abre a nossa vida à esperança. Ele está vivo e ainda hoje quer renovar a nossa vida. A Ele, vencedor do pecado e da morte, queremos dizer:
«Senhor, nesta festa, pedimos-vos este dom: que também nós sejamos novos para viver esta perene novidade. Afastai de nós, ó Deus, a poeira triste da rotina, do cansaço e do desencanto; dai-nos a alegria de acordar, a cada manhã, com os olhos maravilhados, para ver as cores inéditas daquele amanhecer, único e diferente de todos os outros. […] Tudo é novo, Senhor, e nada repetido, nada envelhecido» (A. Zarri, Quasi una preghiera).
Irmãs, irmãos, na maravilha da fé pascal, trazendo no coração todas as expetativas de paz e libertação, podemos dizer: Convosco, Senhor, tudo é novo. Convosco, tudo recomeça.