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Crítica – Revisão Missão: Impossível | O Ensaio da Nova Era

Selo: Arquivo IMF – capítulo 3

Impressionante o quanto percepções podem mudar da água pro vinho. Sobretudo no cinema — e não só no que diz respeito a “ruim” ou “bom” —, mas na capacidade de entender as diferentes linguagens cinematográficas. Isso é essencial para uma saga como Missão: Impossível, que desde seus primeiros capítulos foi marcada por visões autorais sobre uma figura tão complexa quanto a de Ethan Hunt. E pensar que, por muito tempo, eu dizia que a franquia só começava de fato no terceiro capítulo… afirmativa essa que, hoje, está completamente refutada.

J.J. Abrams, ao lado dos roteiristas Alex Kurtzman e o falecido Roberto Orci (1973–2025), entrega um filme que parece mais interessado em desmontar o universo já estabelecido do que realmente aprofundá-lo. Não sabe como tratar Ethan como herói nem como espião. A humanização do personagem — que nas mãos de De Palma surgia como um paranoico enclausurado e, com John Woo, se transformava num herói canastrão e sedutor — aqui se resume a uma função narrativa: Ethan vira uma válvula de escape, uma engrenagem a serviço da estrutura.

Tudo é tão apressado, de uma estilização vazia, com câmeras tremidas e enquadramentos que deixam personagens fora de quadro, que o filme inteiro parece uma longa e desesperada corrida entre o ponto A e o ponto B. Não há organicidade. Não há sensação de aventura. Apenas um filme refém de suas convenções e do estilo egóico de seu diretor, que parece preocupado em deixar sua marca visual a qualquer custo, mesmo que sem sentido dramático.

Ainda assim, há pontos que funcionam. A estruturação de uma equipe ao redor de Ethan é um aceno à coesão que os próximos filmes desenvolverão melhor. Mas aqui, mesmo essa tentativa parece perdida no meio de tantas outras que não se desenvolvem. As ideias surgem, mas não conversam entre si. Parecem apenas passagens obrigatórias para justificar o avanço do roteiro.

Há também algo a se destacar na construção do vilão. Philip Seymour Hoffman entrega um Owen Davian brutalmente eficiente. Um vilão que, apesar de ser quase um “facilitador” de terceiros, domina a cena, dita o tom e estrutura as sequências de ação para que gravitem ao seu redor — e não a Ethan. Ele é, sem dúvida, o personagem com mais identidade desse filme.

A tentativa de humanizar Ethan vem por meio do relacionamento com Julia, interpretada por Michelle Monaghan. E mesmo sendo uma abordagem apressada, ela ganha alguma densidade nos momentos finais. A sequência de ação em que os dois se unem tem algo de balé, uma fisicalidade interessante que ao menos justifica a proposta do filme de colocar o amor como um risco e uma força motriz.

Mesmo o “pé de coelho” — o grande dispositivo que movimenta os conflitos do filme — serve mais como uma desculpa funcional do que uma engrenagem narrativa que realmente instiga. A escolha de nunca revelar o que ele de fato faz até tem algo de interessante, quase como um MacGuffin à moda antiga, mas é uma solução tão preguiçosa quanto simbólica do que o filme propõe: mistério pelo mistério, sem substância. E não ajuda em nada a correlação quase infantil com Matrix que surge da associação automática da palavra “coelho”. Parece mais uma piscadela forçada do que uma referência criativa — mais uma prova de que, apesar da estética autoral, falta a esse capítulo um verdadeiro senso de inventividade.

Por fim, Missão: Impossível 3 é um capítulo que tenta demais impor uma linguagem, mas esquece de contar uma história empolgante. Um filme desmembrado, sem ritmo, que grita sua regionalidade estadunidense e se contenta com um pastiche hollywoodiano qualquer. Muito diferente dos primeiros filmes que flertavam com Hitchcock, com o espaguete policial, com o estilismo de John Woo. É curioso pensar que, na mesma época, Tom Cruise protagonizava Guerra dos Mundos e Minority Report — obras muito mais coesas e criativas no uso da sua fisicalidade como ator. Aqui, o que sobra é um filme que carece de sentimento, mas que, ao menos, nos presenteia com um dos melhores vilões da franquia.

Escrito Por

Lucas Cine

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