Selo: Arquivo IMF – Capítulo 5
A frase “Ethan Hunt é a manifestação física do destino” marca e define muito bem quem é e sobre o que é Missão: Impossível, jogando todos os personagens em um jogo com data de validade, de aparências e da impossibilidade da conclusão dos tais destinos pré-postos por alguém (ou uma entidade maior). As cláusulas e termos são estabelecidas de maneira tão estreita que não há final feliz para nenhum dos lados. É aí que se encontra a grande interseção da figura de Hunt, não como um super-herói, mas como um evitador e catalisador de problemas sem soluções definitivas.

Christopher McQuarrie estreia na franquia após, três anos antes, ter trabalhado com Tom Cruise em Jack Reacher (2012), estabelecendo um vínculo com o astro e com sua linguagem de ação, que mescla um neo-noir que valoriza mais o micro e seus planos fechados do que necessariamente quando o escopo abre para sequências mais extensas — ainda que aprecie essas também. McQuarrie controla bem esses espaços e sabe utilizá-los narrativamente, empregando-os como ferramentas cheias de dispositivos para mostrar a imprevisibilidade de seus personagens e o quanto são vivos.
Uma ótima adição à equipe da IMF e ao elenco de Missão: Impossível é Rebecca Ferguson, que, após o desastre de Hércules (2012), traz aqui Ilsa Faust, uma Femme Fatale imponente que utiliza olhares e linguagem corporal como armas. Uma cena que exemplifica bem isso ocorre quando ela tira a camisa em segundo plano: vemos suas costas, a tensão sobe pelo que pode acontecer, e tudo isso é comunicado pelo modo como ela desdobra seu corpo, transmitindo intenções sem precisar de diálogos.

O filme brinca com os sets pieces criados para sequências estendidas, levando as situações-limite aos próprios limites cênicos, como se não houvesse mais espaço para a câmera ir e vir. A atmosfera é sufocante quando precisa ser, movimentada e entusiasmada quando deseja ser, sexy e provocante nos momentos mais tensos, trazendo um ar diferente para a adrenalina.
Escrito e dirigido por McQuarrie, Missão: Impossível – Nação Secreta é um capítulo mais denso desse jogo de sombras, no qual ninguém pode ser quem realmente diz ser, elevado à enésima potência. O filme faz acenos cinematográficos a opera de Dario Argento, ao cinema maneirista de Brian De Palma no primeiro capítulo e à estilização quase afetada de J.J. Abrams, que ecoa pela produção da Bad Robot — mas nada disso compromete a identidade do cinema de Christopher McQuarrie.