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Crítica – Echo Valley | Mãe e filha dividem a dor, mas o filme não compartilha com o público

Há um esforço claro em construir um drama psicológico em Echo Valley, novo longa da Apple TV+ dirigido por Michael Pearce, mas esse esforço parece sempre travado em seu próprio ponto de vista. Vemos as consequências se desdobrando, as emoções estourando, os silêncios pesando — tudo pela ótica da personagem de Julianne Moore. O problema? A maior parte das causas disso tudo está fora da tela, fora do alcance dramático, como se o filme decidisse acompanhar apenas os efeitos e esquecesse de dar corpo ao que os provoca.

Sidney Sweeney interpreta a filha de Moore, uma jovem com problemas com drogas e um histórico de decisões destrutivas, mas raramente a vemos de fato. A narrativa se organiza como um quebra-cabeça em que as peças mais importantes ficam na caixa. E quando mãe e filha finalmente dividem o mesmo plano, há uma fagulha — o filme ameaça acender, tensionar, encontrar a fratura emocional que poderia guiar tudo aquilo. Só que essa fagulha logo se apaga. Nunca há uma combustão real.

Em vez de encarar esse atrito, Pearce se refugia no belo cenário de Echo Valley. É como se a ambiência bastasse. Os campos, o estábulo, a névoa — tudo muito fotogênico, mas incapaz de traduzir algo além da própria superfície. Há um uso engessado da linguagem cinematográfica, preso ao plano/contraplano, sem um pensamento mais elaborado de como a câmera pode ser ferramenta para expandir e tensionar o drama. O que resta é uma estrutura de ação e consequência marcada por reviravoltas que destoam completamente do tom anterior.

Isso é especialmente frustrante porque o roteiro é assinado por Brad Ingelsby, o mesmo de Mare of Easttown, série em que todos os elementos — tensão, emoção, atmosfera — se encaixavam com precisão. Aqui, o que se vê é um filme que tenta lidar com várias tramas paralelas, mas que acontece, majoritariamente, fora da tela. A filha vai e vem, a mãe tenta juntar os cacos, mas a câmera só acompanha quando é conveniente ou quando a trama exige. Quando deveria mergulhar, o filme prefere observar de longe.

Domhnall Gleeson entrega uma performance sólida como o traficante que surge para cobrar as dívidas de Sweeney. Sua presença intensifica a sensação de ameaça e coloca a protagonista contra a parede. É nesse jogo de sobrevivência emocional e física que Echo Valley poderia encontrar sua força. Mas, de novo, falta fôlego. As melhores cenas — e também as mais dolorosas — são aquelas em que mãe e filha dividem a tela. Só nelas o filme parece lembrar que não adianta ter bons atores e bons cenários se não houver tensão real entre os corpos.

No fim, Echo Valley é um drama que se contenta em parecer profundo. Tem bons atores, uma paisagem bonita e um roteiro com temas espinhosos, mas falta coragem — e cinema — para encarar de frente o que realmente importa. Fica o eco, mas o vale está vazio.

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Lucas Cine

Redator chefe de entretenimento da Update Manauara. Crítico de cinema, apresentador do Lucas Cine Podcast e fã de terror.

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