Se ano passado tivemos meu amigo robô, uma tragédia cômica bordada com a linguagem muda como abordagem para contar aquela história, falando sobre as relações indistintas entre seres e a interseção da tecnologia no meio disso tudo, também fazendo uma correlação do finito da vida e o amor entre o inanimado e o animado, esse ano temos Flow, uma animação que se utiliza do mesmo artifício narrativo para contar uma história igualmente linda.
Assisti Flow a alguns bons meses, perto do final do ano de 2024 e foi uma experiência interessante, da quase gameficação de um jogo indie em que o desenrolar da história não se é contado, mas sim mostrado a cada novo desafio -fase- se é passada. Quando a personagem da Garça entra em cena somos apresentados ao nossos olhos e ouvidos dentro daquele universo. Que também é quando a fantasia da figura enigmática toma conta da tela, mesmo que nossos mais importantes personagens sejam os tripulantes primários daquela viagem.
Pensando agora na animação, no estilo dela e vendo a comoção da Letônia como um todo nos mostrando o poder da arte, suas várias maneiras e formas de atravessar indivíduos e o coletivo, que sempre ponho como uma referência principal para a arte como um todo, Flow chega nesse lugar lindo de concretizar sua ideia no país de origem, e isso é lindo.
Mais interessante ainda quando em um ano temos também Robô Selvagem sendo lançado, dialogando sobre meio ambiente, tecnologia, relações de seres vivos e a sobrevivência interligando a todos, moldando o ambiente em que se encontram, Flow também faz o mesmo comentário, em que os humanos (aqui apenas como agentes invisíveis de destroços) são tão presentes quanto todos os outros personagens em tela.
Flow é um respiro de fofura, em que os medos são evocados pelas vidinhas ali jogadas no futuro incerto de um mundo invadido pelo maior inimigo natural da vida humana, a natureza.