Brady Corbet Parece ter entendido muito bem conceitos arquitetônicos, e como contar algo a partir das estruturas, se vê paixão e vontade de contar a história de O Brutalista. Mas parece que tudo desanda quando ele se dá de encontro de que, para além de tudo ele precisa arquitetar planos para construção de personagens, para o entender de formas. Até mesmo suas escalas, proferidas no texto e em vários diálogos pra lá de expositivos, não se encontra, não encaixa, são grandes momentos criados muito pela trilha sonora e movimentos de câmera, que não ressignificam em nada o teor épico e monumental trago por toda uma tecnicalidade em torno do filme.
Apesar dessa falta de tato dramático pra arriscar algo mais profundo, sobretudo pela segunda narrativa em que Felicity Jones dá as caras e mais um núcleo é ramificado, temos uma primeira sequência de acontecimentos muito bem estruturada seja nos comentários sociais e políticos, seja na criação de tensão em torno dos planos para construção do tal projeto, e que até certo momento vai seguindo fluidamente, e que sim, poderia enxugar muitas tramas em prol da unidade filmica, aqui inexistente. E não que o filme “tem que ser menor” ou “muito longo”, muito pelo contrário, nem senti a duração, digo mesmo em questão de escolhas do que fazer com o filme, são 3hrs20 para que ainda aja um epílogo professoral explicando o personagem principal.
Um filme que desmonta seus núcleos a partir de pequenos dramas e como eles afetam a estrutura em questão, sua construção e todas as jogadas sociopolíticas envoltas naquilo. Núcleos desmontados, mas desencontrados em como estabelecer uma problematica para que seu filme engaje, sem que realmente toda aquela tensão criada, e ambientação sejam postas em crise de alguma maneira, é tudo muito asséptico, desprovido da vontade de contar uma história, ou de criar cinematografia para tal argumento tão artístico que existe no cerne do filme.
Contudo, reitero muito o quanto a primeira metade de O Brutalista com apenas a vida desgraçada de Laszló Tóth, e sua jornada impetuosa pelo reconhecimento da sua arte, mas sem que necessariamente ele queira alcançá-lo, dado momento em que tudo dá tão errado que ele apenas se torna mais um peão no jogo de peças brutal do capitalismo estadunidense. Que se é muito esclarecido (até demais) pelos comerciais narrados da atual situação econômica da América, não necessariamente da nação, mas sim de localidade específica, que no fim das contas é apenas um vetor para a grande máquina estatal engolindo tudo e a todos.
Quando se há o mínimo de lampejos cênicos na direção apática de Corbet, temos alguns planos interessantes, como quando no terço final do filme se constrói um plano mesclando a arquitetura da casa dele com ele mesmo, sobreposição como metalinguagem narrativa que comunica muito mais do quê quaisquer diálogo antecessor a esse plano. Ou até mesmo em um que um amigo italiano de Laszló está andando pelas lacunas inacabadas da construção e existe um voice over como se lá dentro todos virassem apenas escombros falantes engolidos por algo que nem eles mesmos entendem, a beira da loucura, provida da procura inconsciente da perfeição.
Até mesmo a personagem de Felicity quando entra na trama, mesmo com uma das problematicas mais bem trabalhadas na trama, se esvai em momentos dolorosos afim de criar, então, um peso dramático que novamente cai no mesmo desuso que todas as outras tentativas de manipulação de emoção, ou do diálogo sobre arquitetura atravesse o campo da teoria, das inúmeras falas sobre a grandiosidade de algo que não se concretiza, que eu e minha vivência levamos a outros campos que não dizem respeito ao filme, que obviamente não fizera isso, mas que irei comentar a seguir.
Se em Megalopolis Copolla trabalha a arte como alicerce estrutural daquela sociedade e a política apenas como meio para as formas, aqui em Brutalista não a essa cadência e manejo de narrativas. O escopo grandioso é o alicerce do idealizador desse filme, infecta ele com suas grandiosidades e não consegue extrair nada do que se propõe durante todo o longa, são coisas muito interessantes proferidas, são sonhos e uma temática interessantíssima jogadas ao relento para satisfação egoica de uma produção rasa. Além do quê, o diretor quanto pensador social parece querer apenas criticar, sem desenvolver nada a partir disso.
O Brutalista se encerra e o sentimento que fica -infelizmente- é de um filme perdido, com bastante potencial, temático e cênico apostando todas suas fichas na autopropaganda de um filme para a academia fingindo ser progressista, mas que no fim das contas é tão conservador quanto seu personagem “vilanesco” vivido por Guy Pearce. A decupagem aqui é quase como uma antítese do seu filme, desprendendo tecnicalidades tentando emendar em um filme descompassado.