“Há um fantasma na minha casa, e ele está usando minhas roupas.”
Poucos diretores carregam consigo uma autoridade cinematográfica tão grande quanto Manoj Nelliattu Shyamalan e isso ele traduz em todas suas obras sem quaisquer amarras fazendo com que suas ideias virem experiências da vivência do diretor que por um acaso iremos presenciar em suas narrativas criativas e cheias de identidade, e armadilha é o exemplo perfeito disso.
Se em A visita (The Visit,2015) o diretor usa o found footage como motivo e forma daquele universo existir em sua linguagem, aqui ele aborda um certo caos formalista que muito se tem profusão dentre todos eles e nos entregando uma comédia de erros com tons muito bem estabelecidos de terror e em como ele referência obras clássicas dos gêneros seja Halloween (Halloween,1978) de John Carpenter ou Pânico (Scream, 1996) de Wes Craven de diretores igualmente criativos.
Um aceno lindo que fica implícito em vários momentos do longa, fazendo até uma alusão vezes explicita ao universo que ele mesmo criara com a trilogia iniciada com Corpo Fechado (Unbreakable, 2000), e isso é algo que dentro da trama funciona demais e maneira com que ela vai se construindo, estudando a psique do personagem Josh Hartnett, Cooper.
Quando eu falo em “comédia de erros” me vem em mente também o recente O Assassino (The killer,2023) de David Fincher na qual a tecnologia é sua maior e melhor aliada em ligação direta com sua sociopatia atiçada pelo seu trabalho e o ajudando nas relações e como tais portas e acessos irão lhe ser dados. Aqui, de maneira jocosa e hilária Shyamalan nós jogamos na pele de um Serial Killer criando primeiro a persona “comum” dele, mas não por motivos convencionais, mas sim como estudo de personagem em como Cooper flutua e passeia entre suas personas estando sempre em uma linha tênue, usando da sociopatia para conseguir acesso onde ele bem entender.
E mesmo que todo aquele show, literalmente criado para o filme da Lady Raven (Saleka Shyamalan) e como isso vai dialogando seja como aceno para uma talvez experiência que ele tivera com a filha e isso fez ele criar uma situação limite dentro desse universo para que sua filha seja a grande estrela do show como mais um aceno parental e nostálgico do que propriamente não apenas um trabalho qualquer do diretor. Shyamalan gosta de trabalhar memorias, a sociedade em grandes situações em um escopo pequeno com traços e críticas sociais seja em Dama na Água com um crítico de cinema que não entende de cinema e e vê ele como apenas uma formula e perdeu o encanto com aquilo que tanto ama, seja em Armadilha em como ele arma todo um show para claramente criticar a segurança, infraestrutura e as facilidades com que contatos são estabelecidos nesses espaços.
Espaços esses que trazem uma parcimônia inacreditavelmente aconchegante, mas não pela situação em si, mas pelo cinema de M.Night trazer esse senso, em como ele manipula nossas emoções a partir das formas como ele traduz sentimentos nas imagens e texto, e que, mesmo que o Serial Killer esteja dentro de um lugar com muitas possíveis vítimas, o máximo de tranquilidade que podemos ter é dele estar ao menos estar enclausurado, não só enclausurado mas sendo caçado em uma lógica completamente slasher de caça e caçador com uma pessoa que estuda nosso personagem principal enquanto nós como expectadores somos apresentados a ele e todas suas nuances e estamos seguindo ele de maneira como nos mesmo estivéssemos atrás dele mas não pelo mesmo motivo da psicóloga comportamental.
Armadilha é um filme fluido, consciente que diverte e mantem tenso em toda duração sendo usado de todos as ferramentas estabelecidas durante o longa para sua própria narrativa nos entregando emoções ligadas diretamente com nossa ligação e lugar comum de ser apenas um show e partir dali o verdadeiro “espetáculo” acontece. Espetáculo que faz alusão ao fato de horas estarmos torcendo pelo nosso protagonista da maneira mais mórbida possível pois queremos ver o filme desenrolar e em como o diretor vai trabalhar a próxima grande escapada do assassino, e isso é algo genial que já foi trabalhado na 3 temporada de True Detective, a maneira mórbida com que esse tipo de abordagem é tratado hoje em dia e o circo midiático em cima de tudo isso é algo que o diretor trabalha com maestria.