Começo a falar de Vínculo Mortal pela reverberação de um viés de confirmação que se concentra em muito se pontua o medo do gênero ser tal gênero. Ao meu ver é como se fosse uma afirmação contraditória a partir do momento que o “pós terror” não se toma como existente na própria lógica cinematográfica dito que cai por terra ambas afirmações quando se na história do cinema temos tantos outros longas (baseados ou não) na abordagem mais estéreo e fria de um personagem.
A cinema contemporâneo tem como principal obstáculo o próprio público que subestima a capacidade dialética do filme por entender suas bases de onde são baseadas e inspiradas, como se isso fosse um grande problema e como se no cinema isso não fosse uma realidade, ai sim, atemporal e que vai perdurar e transbordar para além do cinema. Arte é isso.
A forma com que Oz Perkins pensa suas imagens e as várias maneiras dele trabalhar o mau encarnado através de espelhos da sociedade tratando seus personagens com descompasso social como se cada um daqueles pudesse ser uma face do mal em sua essência mas não por motivos fantásticos, mas sim pela selvageria humana, o descontrole mental frágil que assombra a sociedade que molda todo o ambiente em torno.
Parte da trama que mistura vários elementos do gênero, de narrativas, faz com que todos os personagens lidem com desafios, com medos e com fantasmas do passado imutáveis, mas que mutam a essência humana de cada um a partir de literais dispositivos, transformando-os como se houvesse uma entidade que muitos renegam por uma asséptica visão moral e errática de um mundo cinza sem grandes novidades.
O frio, a gelidão de sentimentos que carregam em seus corações por toda uma vida ordinária na qual não se há respiro, uma propagação de vida, do viver e do sentimento de manter-se são o suficiente para lutar com todos esses monstros que, quando tragos para a vida real e trazem a tona uma carga emocional que antes não estava ligada ao ato de viver, agora anda lado a lado com a ameaça que te persegue e atormenta dia e noite.
Vínculo Mortal é um longa que abraça seu design de produção procurando imprimir o medo em cada lacuna e usando o mesmo como descarrego emocional de alívio quando finalmente temos o mal em carne e osso, e os desdobramentos de uma investigação ligada de maneira intrínseca ao passado, ao trauma e o horror de lembrar, pois a partir do momento que se lembra, se sente, se vive.
O horror aqui, como parte de um grande jogo de sensações, por mais que limitadas, mas não de maneira ruim, são sensações impostas pelos protagonistas daquela investigação que vão sucumbindo ao jogo doentio do mal que vai escalonando e deixando o cerco fechado, mesmo que aparentemente pela frieza que o ambientação trabalha, pareça ser apenas algo cíclico que nunca vai acabar.
Um filme de investigação de horror sobre um serial killer metódico que vai muito além do apenas sobrenatural, investigação e da morte para uso de gore. Aqui se trabalha a misticidade profana imprimido com maestria a partir de imagens e pequenos momentos que dão respiro em meio a frieza onde todos estão alocados. Um jogo maldoso com gostinho abstrato de morbidez.