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Falsas verdades como alicerce social – Jurado número 2 (2024) Review

É inebriante o quanto Eastwood renega o virtuosismo contemporâneo entregando contravenções e reformas narrativas que são moldadas pelos seus próprios valores humanos e políticos fazendo com que seus personagens sejam personificações afronte das lentes, dos olhares observadores que vão de encontro com o texto apuradíssimo de uma forma materializada do comentário sobre as instituições sociais regidas, guiadas pelo olhar da vida ordinária e sua heterogênea ideológica transmutada pela discurso fúnebre conservador como método para a prática social.

Senti como se todos os personagens ali fossem um diálogo clínico da visão/vivência das várias verdades e correlações políticas que Clint passou por todos esses anos montando esse espetáculo esquematizado como uma materialização do seu descontentamento para com a posterioridade alavancada por um retrato prático da sua visão brincando com as várias inverdades constituintes de uma mesma verdade, de vários pontos de vista diferentes não só como diálogo expositivo das inúmeras ferramentas e escolhas narrativas que podem ser tomada, mas sim de criação dessas ideias e ideais.

Em Jurado número 2 Eastwood celebra de forma maneirista alguns manejos hitchcockianos que fazem seu filme ficar a margem de uma quase fantasia, mas não pelo intangível, mas sim pelo espetáculo observado de vidas e sua decadência pessoal partindo de ideologias hegemônicas, e logicamente seus fracassos quanto instituições que precisam, não necessariamente tratar as questões sociais como problemas para se resolver a qualquer custo como sim perpetuar o olhar humano sob vidas permeadas pela falta de ética nas tais pedecendo de alicerces comunitários e sociais.

A comunicação pelas não respostas lineares de uma sequência confirmatória de algo aqui não existe. Os fatos estão aí e a narrativa brinca bem com seus vários dispositivos como artifícios a se desenrolar essas questões da maneira mais arbitrária possível, como se a verdade, cada vez mais debatida e tida em vista, mesmo que materialmente passando pelos vários tipos de julgamento dentro do júri levantandos que vão desde preceitos construindo preconceitos, levando a inúmeras falsas verdades de suposições vindas de um olhar moralista do mundo permeando e estacando o julgamento de justiça a apenas especulações descrevendo de maneira quase irônica a injustiça sendo feita.

O maior inimigo que Eastwood encontra por aqui em seu filme e que ele trabalha de maneira frontal desde narrativa a artifícios imagéticas com seu personagem e uma fotografia límpida de um suposto mundo “irretocável” e “sem erros” reparando quadro a quadro e diálogo a diálogo essa imagem deturpada dessa sociedade perfeita encontrando seus fantasmas e os exorcizando quase como se fôssemos apenas justiceiros (ou cúmplices) disfarçados de espectadores que sabemos tudo que está em jogo e quem pode mudar esse jogo, mas não podemos fazer nada.

Essa impressão e enclausuramento da verdade que você detém, mas necessariamente não pode expor e tampouco fazer com que ela seja feita à vontade da justiça, Clint carrega como ninguém  essas especulações em prol de uma aventura democrática e cheia de desdobramentos cavando cada vez mais fundo não no caso que estamos acompanhando, mas todo seu contexto social e político, que com certeza vai ditar tudo mais que seu júri, suas ambiguidades e inverdades contrárias ao pensamento comum da necessidade de resposta, do certo, e de fazer seu trabalho, mas a que custo?

A palavra chave para Jurado número 2 é conciso. Não por sua extrapolação textual para contar sua historia a partir de diálogos e discussões inconclusivas, mas sim de tomar pra si a verdade no seu personagem principal como um contra-balanço da justiça e de como a busca incessante de uma falsa verdade reflete de maneira límpida a desconstrução do homem de família e o formador patriarcal de ideias “corretas” e correlatas.

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