O horror cósmico em sua essência precisa ser algo descolado da realidade com ferramentas essenciais quê deem substância para criar o grotesco tirando o espectador do lugar comum e aqui em Abraço de mãe temos uma trama mais concisa que pouco se arrisca na sua sujeira, mas abraça o enclausura mento em prol da ambientação que vai para além do que está em tela, mas sim do que está fora e da narrativa criada em volta das tempestades, do olhar social da má estruturação de uma sociedade.
Gosto das inspirações que Cristian Ponce traduz para o olhar e uso de ambiência que mais tem a dizer do que a própria cinematografia mais limpa que mais causa uma sensação de inexatidão quebrando a experiência mas pegando na mão quando se trata da criatividade textual sabendo ir de um dialogo comum para algo mais ‘sem sentido’ dentro das convenções do horror cósmico, que vai se moldando durante a sua rodagem, mas que visualmente o filme parece não querer acompanhar tal crescimento e viradas.
Falo muito sobre isso pois é muito estranho você assistir a um filme que está se movimentando no roteiro, a historia está caminhando mas as imagens e planos que você acompanha não trazem junto o filme. Mas não aquele caso clássico de dois filmes dentro de um brigando pelo protagonismo e olhar do espectador, quando um consegue fazer a deixa da aflição e sufocamento dos limites impostos pela casa que o filme se passa, mas os planos da casa mostram mais e mais compartimentos como se houvesse uma escapatória e isso importasse mais que estar preso e o que há dentro.
Os acenos referenciais sejam visuais ou escancarados (alô alô João Carpinteiro) são um frescor diegético fazendo a experiência para além do horror e drama bem alocados dentro do suspense, se torna um filme bastante divertido em sobreposição estética trabalhando bem a Brasil dos anos 90 com uma Marjorie Estiano satisfatória em uma quase Final Girl, pois o filme se desvencilha do gênero em prol de uma produção de apresentação e de um streaming popular.
Abraço de mãe traz uma visão limpa apresentando o horror cósmico, subgênero um tanto quanto escanteado pela maneira mais frontal de trazer um mal desconhecido criado mais pelo nosso imaginário do que propriamente pelas obras em si, mas muito funcional equilibrando apresentação dessa tipo de linguagem cinematográfica pro grande público e como encara a problemática do mundo real como motivo daquela situação limite dar luz a essa história. Fantasioso e dramático em medida.