Louvável o que Todd Philips faz aqui e a maneira com que trouxe pensa essa continuação que tanto reverberou por conta da sua maneira errática e nada sensível que faz seu primeiro filme ser patético. Aqui, ele ao menos resgata algumas coisas lá e existe um senso paupável de autoindulgência que é justamente onde o longa se distancia de si mesmo se tornando um esqueleto de montagens e cenas bonitinhas, que não comunicam nada. Ótimas ideias em um filme medíocre, mau executado, mau dirigido e sem identidade alguma. A única identidade de Philips é fazer “piada” com anão que se não me engano, faz isso desde Se Beber, Não Case. Que gosto amargo.
Movimentos contra a indústria dentro de uma contraposição cíclica como narrativas vem tomando uma forma consideravelmente forte no cinema, mas especificamente em Hollywood que vem ou outra diretores conseguem expor suas ideias de maneira com que aja mais contra o publico, do que para o publico, algo frontal, algo genuinamente autoral que sim faz brilhar os olhos mesmo que tal ideias sejam retaliadas pelas mesmas logicas frontais, nesse caso aqui empregadas como musical.
Aqui toda aquele tom de desesperança e sufocamento mau trabalhados no primeiro longa de 2019, dá vez a fantasia e ao cômico sabendo e entendendo seus personagens os tratando como antítese moral de tudo que dialoga e se esforça milimetricamente para que seja uma grande autoindulgência marcada e batida pela sua ferramenta mais criticada e frontal para com o publico que ele quer dialogar (que devem majoritariamente odiar musicais) que é o musical, além de trazer uma trama mais contida de tribunal pra lá de simbólica.
Tal como a cinematografia mais sóbria, e não que isso seja mais ‘bonito’, existe algo ali para dialogar, existe um porque daquelas imagens, é o diretor querendo ao menos que tenhamos noção de que Arthur Fleck está ‘limpo’ ao mesmo tempo em que tudo aquilo pode ou não ser real deixando um filme divertido, e um trabalho bem legal de estudo de personagem trabalhando suas nuances e limites a partir do expurgo cinematográfico que transborda a tela.
As cenas musicais aqui apesar de bem alocadas, são mal executadas quase como se fosse de proposital ser daquela maneira dialogando e imprimindo a tal ‘copia’ para si, já que o primeiro longa é rotulado apenas como apenas um amontoado de referencias a rei da comedia de Scorcese e Taxi Driver. Aqui ele pega um amontoado de musicas já compostas e só põe seus personagens para cantar.
Apesar de todos os trunfos que Philips consegue alcançar existem muitas imaturas formas de trabalhar linguagem cinematográfica, tornando tudo muito prolixo e vezes pedante, mas que logo pega de novo no tranco, é como se fosse um filme instável, e vai saber se isso era intencional, será que é? será que Todd Philips brincou com toda nossa perspectiva filmica propositalmente pra enxergar no fim do túnel uma redenção? a resposta está lá no longa e se torna interessante demais o pós filme.
Outro ponto interessante é a personagem de Lady Gaga que mais uma vez parece querer a todo momento não estar interessada em estar no filme, em tela, sendo registrada pela câmera. Causa desconforto como se estivéssemos presenciado algo parecido a experiência que tive com o curta Outer Space de Peter Tscherkassky, fazendo o sentimento de opressão e opressor ser mais entendível pela não verborragia.
Coringa delírio a dois consegue ser quase tudo que o de 2019 tenta incessantemente desde tratar coringa como um personagem que se afunda nas suas ideias de mundo e como o vê tudo aquilo do jeito mais turvo e fantasioso possível, dando até espaço para o amor em meio a tudo isso, uma toxicidade de ambos os lados que deixa mal pela realidade dos dois, um embrulho na barriga genuíno da infelicidade e ciclo de violência do casal que não apenas serve para uma virada de roteiro patética que era tudo fruto da imaginação de Fleck. Tudo está na mente de Fleck, e aqui vivemos isso na pele.