Em uma visita a Manaquiri, no Amazonas, nesta terça-feira (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou o compromisso do governo federal com a reconstrução e asfaltamento da BR-319. A rodovia, que conecta Porto Velho (RO) a Manaus (AM), é considerada fundamental para a logística da região, mas está envolvida em um intenso debate ambiental. O presidente anunciou que uma reunião será organizada em Brasília, reunindo senadores, governadores e ministros, com o objetivo de discutir os próximos passos da obra.
Suspensão da licença e controvérsia ambiental
A BR-319 tem enfrentado obstáculos desde que, em julho deste ano, a Justiça Federal suspendeu a licença prévia para a reconstrução do trecho central da rodovia. Este segmento, com 405 quilômetros, corta áreas altamente preservadas da Floresta Amazônica, o que gerou grande preocupação entre ambientalistas. Eles afirmam que o asfaltamento poderia facilitar o acesso de grileiros e madeireiros à região, promovendo desmatamento ilegal e destruição ambiental.
Em resposta a essas preocupações, o governo Lula se comprometeu a alcançar o desmatamento zero na Amazônia até 2030. Essa promessa tem sido uma das principais bandeiras do Brasil em fóruns internacionais. No entanto, a reconstrução da rodovia BR-319 é vista como um desafio, uma vez que concilia o desenvolvimento econômico da região com a preservação ambiental.
Defesa da ministra Marina Silva
Durante o evento em Manaquiri, Lula saiu em defesa da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que tem sido alvo de críticas por supostamente bloquear o avanço da obra. O presidente negou que a ministra seja contra a BR-319 e pediu que deixem de responsabilizá-la pela demora no projeto. “É preciso parar com essa história de que é a ministra Marina que não quer construir a BR-319”, afirmou Lula.
Segundo ele, o governo está buscando formas de avançar com a construção da rodovia de maneira responsável. Lula ainda destacou que, em sua volta a Brasília, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, convocará uma reunião com o governador do Amazonas, Wilson Lima, para pactuar uma estratégia de desenvolvimento sustentável que proteja o meio ambiente ao longo da BR-319.
Importância estratégica da rodovia
A BR-319 é considerada vital para a ligação entre Manaus e Porto Velho, especialmente durante o período de seca do Rio Madeira, que historicamente serviu como uma importante rota de transporte para a região. De acordo com Lula, enquanto o Rio Madeira era navegável e cheio, a rodovia não tinha tanta importância. No entanto, com as secas mais severas, a rodovia tornou-se fundamental para não isolar as capitais.
O presidente destacou a necessidade de reconstruir a rodovia sem causar danos ambientais e se comprometeu a trabalhar em parceria com o governo estadual para garantir o desenvolvimento sustentável da região. “Nós vamos fazer a reconstrução da BR-319 com a maior responsabilidade e queremos construir uma parceria verdadeira entre governo federal e estadual”, afirmou.
Impacto global e preservação da Amazônia
Lula lembrou que a BR-319 está sob o olhar atento de líderes globais, que pressionam o Brasil a preservar a Amazônia. A floresta é considerada um patrimônio mundial e vital para o equilíbrio climático do planeta. No entanto, o presidente ressaltou que a Amazônia deve ser vista não apenas como um “santuário da humanidade”, mas como uma fonte de riqueza sustentável para o Brasil.
“Queremos a Amazônia não como um santuário da humanidade, mas como patrimônio soberano desse país, onde a riqueza da biodiversidade seja estudada e os povos que vivem aqui possam prosperar e ganhar dinheiro por conta da preservação”, declarou Lula. O governo planeja desenvolver tecnologias e políticas que permitam explorar a biodiversidade da floresta de maneira sustentável, beneficiando as populações locais e mantendo a integridade ambiental.
Próximos passos e negociações
Lula indicou que, enquanto os primeiros 52 km da rodovia começam a ser construídos, o governo trabalhará para preparar o Estado e as comunidades próximas para garantir que a obra avance sem prejudicar o meio ambiente. Além disso, o presidente destacou a importância de garantir que a rodovia não abra espaço para atividades ilegais, como o desmatamento e a grilagem de terras, que costumam ocorrer nas proximidades de grandes obras de infraestrutura.
A próxima etapa será a reunião com os governadores, ministros e senadores para definir os termos do “pacto” pela BR-319, de forma que a rodovia possa ser concluída sem comprometer as metas ambientais do país.