O protesto que reuniu milhares de indígenas de todo o Brasil na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, nesta quinta-feira (10), terminou em confusão e violência. A marcha final do Acampamento Terra Livre (ATL) foi interrompida com bombas de efeito moral e spray de pimenta lançados pelas forças de segurança contra os manifestantes. Entre os atingidos estavam mulheres da etnia Xakriabá e a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG), que chegou a relatar fortes dores nos olhos e teve o acesso barrado por policiais.
O grupo tentava seguir até a Praça dos Três Poderes, mas foi impedido por um bloqueio policial. Segundo relatos, as bombas foram lançadas enquanto a deputada se dirigia ao Congresso acompanhada de um grupo de mulheres indígenas. Duas delas desmaiaram e precisaram de atendimento médico — uma foi levada ao hospital.
Mas o ato vai muito além do episódio de repressão. A marcha integra o Acampamento Terra Livre, que chegou à sua 21ª edição neste ano com o lema “A resposta somos nós”. O ATL é a maior mobilização indígena do país e tem como principais pautas a demarcação e proteção de terras indígenas, a garantia de direitos constitucionais, e a participação efetiva dos povos originários nas decisões sobre a crise climática — especialmente diante da realização da COP-30, em Belém, prevista para novembro deste ano.
A manifestação também marcou o lançamento da Contribuição Nacionalmente Determinada Indígena (NDCI), uma proposta apresentada pelos próprios povos originários como resposta à crise ambiental. A NDCI é um compromisso de ação climática específico dos povos indígenas, apresentado paralelamente à meta oficial do Brasil perante a ONU, reconhecendo os territórios indígenas como barreiras naturais contra o desmatamento, a mineração e o avanço do agronegócio.
“A nossa mensagem principal nessa COP é mostrar o papel dos territórios indígenas como parte fundamental do combate à crise climática”, afirmou a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, durante o evento. A ministra destacou ainda que os povos indígenas precisam estar no centro das decisões e não apenas como espectadores do debate climático global.
A marcha representou o encerramento de cinco dias de plenárias, debates e articulações políticas com a presença de mais de 7 mil indígenas de diversas regiões do país. O ATL 2025 termina nesta sexta-feira (11) com a leitura do documento final, que reúne as principais deliberações da mobilização.
Apesar da violência sofrida no final da marcha, o movimento indígena reforça que a luta por direitos e pelo reconhecimento de seus territórios continua. Segundo Toya Manchineri, coordenador da COIAB (Coordenação dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira), é preciso construir alianças com a sociedade para enfrentar as ameaças comuns a todos: “Não são só os povos indígenas que vão salvar o planeta. Todos que vivem nele precisam assumir esse compromisso.”