Aqui neste terceiro episódio, The Last of Us mergulha fundo no impacto emocional da ausência de Joel. Após o chocante desfecho do episódio anterior, era esperado que a narrativa desacelerasse — e foi exatamente isso que aconteceu, mas de forma surpreendentemente bela.
Logo nos primeiros minutos, vemos Tommy velando o corpo do irmão. Ele pede que Joel dê um recado à sua filha falecida, Sarah. É um momento de partir o coração, e que define o tom de todo o episódio. A série nos convida ao silêncio, ao luto interno que não se expressa em palavras, mas em atmosferas e imagens cuidadosamente construídas.

Mas é na sequência de Ellie caminhando sozinha pela casa de Joel que o episódio alcança seu ápice emocional. Cada cômodo visitado, cada objeto tocado, é um lembrete de que ele não está mais ali. A câmera não tem pressa. Os enquadramentos são longos, a trilha sonora é quase inexistente, e o som dos passos ecoando pela casa transmite um sentimento profundo de vazio. É nessa hora que entendemos: The Last of Us não quer nos mostrar o luto — quer nos fazer senti-lo.
Visualmente, o episódio é uma obra-prima. A direção de arte aposta em tons suaves, iluminação natural e composição minimalista. O resultado é uma estética melancólica que reforça a solidão de Ellie. Essa escolha estética dialoga diretamente com a ausência que ela tenta entender — e superar.
A atuação de Bella Ramsey segue contida, refletindo o estado emocional de Ellie. Às vezes, essa contenção pode parecer frieza, mas há uma intencionalidade clara ali. É nas cenas com Dina (Isabela Merced) que a personagem começa a recuperar uma centelha de vida. A química entre as duas surge de forma sutil, plantando uma semente que promete florescer nos próximos episódios.

A participação de Catherine O’Hara como Gail ainda é enigmática, mas traz diálogos que abrem espaço para reflexões importantes. Afinal, Joel moldou quem Ellie se tornou? Ou ela já caminhava por esse caminho antes mesmo dele? Essa ambiguidade faz parte da beleza da narrativa — não existem respostas fáceis.
Além disso, o episódio marca uma boa introdução da WLF, grupo que promete ser central nos próximos capítulos. Ainda que apareçam pontualmente, seu impacto é imediato e brutal. A organização exibe força, disciplina e um senso de ameaça real. A execução de uma criança — parte de um grupo ainda misterioso, que parece seguir uma ideologia ou fé específica — só reforça esse tom sombrio. A série não revela quem são esses inimigos, mas insinua sua presença como algo inquietante. A maneira como esse momento é dirigido adiciona tensão e levanta perguntas que certamente serão exploradas mais adiante.

Ainda que o episódio possa parecer lento para quem busca ação, ele cumpre com excelência a função de ser um ponto de virada emocional. A série não tem mais pressa em entregar reviravoltas — quer nos mostrar as consequências. E nesse sentido, o terceiro episódio é um triunfo.
Porém, é inevitável falar das mudanças em relação ao jogo. O episódio toma liberdades narrativas significativas que podem dividir a audiência — especialmente os fãs mais apegados à obra original. Certos acontecimentos foram reposicionados ou alterados, o que pode causar estranhamento a quem conhece os eventos de The Last of Us Part II de forma mais íntima. Ainda que seja compreensível adaptar certas passagens para melhor funcionarem em uma linguagem audiovisual, algumas dessas mudanças tiram um pouco da urgência e da coesão emocional presentes no game.
Isso não significa que a série está errando, mas sim que está buscando se firmar como uma obra própria — com seu próprio ritmo, escolhas e ênfases dramáticas. Para alguns, essas alterações podem ser bem-vindas. Para outros, podem soar como uma ruptura desconfortável. Resta saber se, no panorama geral da temporada, essas decisões se justificarão plenamente.
The Last of Us nos mostra que o silêncio, quando bem dirigido, pode ser mais eloquente que qualquer explosão ou confronto. E esse silêncio está cheio de Joel — e do vazio que ele deixou.