Crítica – Revisão Missão: Impossível | A Câmera em Chamas de John Woo

Selo: Arquivo IMF – Capítulo 2

Capítulo excitante da franquia, Missão: Impossível 2 escancara o estilo autoral e exagerado de John Woo dentro de um universo cinematográfico em constante reinvenção. É como em A Hora do Pesadelo, em que a fantasia se molda ao diretor da vez: cada filme traz um Freddy diferente, um tom distinto. Aqui, Ethan Hunt se desprende da paranoia noir de Brian De Palma e mergulha num universo que abraça o exagero, o fetiche e a fisicalidade como marcas de linguagem — com raladas visuais que remetem a Matrix, As Panteras e o próprio Woo em sua fase hollywoodiana.

O roteirista Robert Towne — o mesmo de Chinatown — permanece na franquia, mas aqui seu texto ganha outra pulsação. Se no primeiro filme ele construiu um labirinto de incertezas, aqui a estrutura se curva à estética eloquente do diretor. Missão: Impossível 2 não nega o noir: ele estiliza, maximiza e explode esse universo investigativo com slow motions, closes dramáticos, pombas em câmera lenta e um gosto pelo balé da violência. Tudo é sentido — como espetáculo e como sensação.

O filme ecoa o delírio afetado de A Outra Face, outro projeto hollywoodiano de Woo, onde a entrega performática de Nicolas Cage é canalizada como energia narrativa. Aqui, Tom Cruise entra nesse jogo com uma afetação diferente — menos caricata, mas igualmente carregada de intensidade. O gesto, o olhar, o movimento do cabelo ao vento: tudo em Ethan é amplificado para o épico. Woo transforma seus protagonistas em mitos coreografados — e Cruise topa dançar.

A figura de Ethan Hunt também muda: mais sedutor, mais sacana, mais herói de ação romântico. A sensualidade em cena — com Thandie Newton e a tensão constante entre desejo e missão — traz um toque bondiano que cria uma nova dimensão emocional para Ethan. Seus traumas, sua busca por controle e até mesmo seu vilão refletem um homem que ainda sente, ainda hesita. E que, por isso, nos envolve.

Missão: Impossível 2 é um corpo estranho dentro da franquia — não por destoar, mas por assumir com orgulho o exagero e a extravagância. É como se o filme se permitisse ser um delírio momentâneo, guiado mais pela forma do que pela lógica. Mas é justamente essa liberdade visual e narrativa que o torna inesquecível: a trama pode até parecer simples, mas o modo como ela é conduzida transforma cada sequência num espetáculo. Ele não busca coerência com os filmes ao redor — ele impõe sua presença com estilo, suor e câmera lenta.

Lucas Cine

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