Por mais que Lanthimos entregue uma obra mais sóbria e que converse melhor com o seu tipo de narrativa, a forma com que essas histórias são integradas a partir das imagens que ele propõe serem desconcertantes e inquietantes, ele nunca chega em seu ápice, que curiosamente seus personagens conseguem chegar, mas o filme parece não acompanhar os próprios eventos. A lógica que o diretor traz aqui é de um mundo guiado por pessoas que precisam e necessitam de serem guiadas e lideradas por entidades, deixando diminuta a tal “liberdade” e humanidade de seus personagens, fazendo com que seja um argumento inicial paupável para que esse universo seja criado com a direção e visão de mundo turva do Yorgos, que gosta tanto de trazer em seus longas. A escolha de serem 3 curtas abordando a mesma temática com dispositivos diferentes dentre eles em um mundo que parece se colidir pelo ponto mais óbvio, acaba ficando muito raso a partir do momento que enxertos e inserções de “coisas acontecendo porque devem acontecer” transbordam pelos lados em um roteiro que deixa tudo tão morno e truncado de assistir, que vezes funciona por deixar os aparentes momentos verdadeiramente interessante e que engajam serem maior do que sua construção. É como se o desenvolvimento das histórias só fosse acontecendo eloquentemente e de maneira cadenciada com o único propósito de uma tentativa de que quando chegue o punchline seja completamente impactante, o que se torna totalmente o contrário quando não necessariamente somos jogados em nada parecido durante, e quando vem é algo indiferente que só concretiza uma história, sem o tal punch que eu que ele gosta de causar. A partir da segunda história isso fica aparente e você já fica com o mindset preparado para aquilo, para aquele tipo de narrativa. Mas ele até que consegue, no último curta trazer algo bem mais interessante e encorpado que ai sim dialoga muito bem com toda a proposta e a catártica relação humana para com o poder que o leva a todos os âmbitos possíveis do conhecimento humano, seja fantástico, humano, sobrenatural. Os erros humanos assim que encarados como dádiva a partir dos dispositivos (humanos ou não) que vão dando a lógica daquele micro universo, que até pode se ter um debate maior pois aquilo ali se tem uma verossimilhança para com a realidade muito relacionável, mas falta tato com a construção das estranhezas e dubiedade que uma pessoa tem. São personagens unilaterais que o filme arranha mais camadas, mas sem sucesso. Por fim, Tipos de Gentileza consegue abordar e ser interessante em dados momentos específicos, mas fica no caminho quando tenta tornar aquelas situações mais do que são, transbordando falácias, personagens que poderiam ser mais erráticos com causas e consequências pelo poder, mas aqui, fica tudo estéreo parecendo que o diretor estava tanto gritando algo, que ao final da obra já não faz sentido mais.
O Contato (2024) – Review
O cinema documentário tem o poder singular de transportar o espectador para realidades distantes, e “O Contato”, dirigido por Vicente Ferraz, é um exemplo notável desse potencial. O filme, que será lançado simultaneamente em várias capitais brasileiras, se destaca por oferecer uma visão íntima e sensível das vidas de três famílias indígenas na região de São Gabriel da Cachoeira, uma área notoriamente rica em diversidade étnica. Vicente Ferraz se propõe a algo ambicioso: mostrar o que há de universal na experiência dessas famílias indígenas, sem deixar de lado a complexidade e a especificidade de suas culturas. É um feito louvável, especialmente em um país como o Brasil, onde a invisibilidade dos povos originários ainda é uma realidade alarmante. O diretor utiliza histórias singelas, mas profundamente humanas, para conectar o espectador àquelas realidades. Seja através da jornada de uma professora em busca de cura para sua filha ou da história tocante de uma criança que vai conhecer sua bisavó, “O Contato” se firma como uma obra que transcende as fronteiras da mera curiosidade antropológica. A força do filme reside na capacidade de Ferraz de mesclar o particular e o universal, oferecendo uma narrativa que não apenas documenta, mas que também emociona. A opção de conduzir a narrativa pelo ponto de vista dos próprios indígenas é um acerto crucial, pois confere autenticidade e respeito às histórias contadas. Não se trata de um olhar externo que exotiza ou romantiza as culturas indígenas, mas de um olhar que se compromete com a verdade dessas vivências. Além disso, “O Contato” não se esquiva de temas dolorosos e urgentes, como a perda da língua, da tradição, e a ameaça constante de extermínio físico e cultural. O impacto do contato com a sociedade não-indígena é explorado com sensibilidade e profundidade, revelando as consequências trágicas desse choque de mundos. A força narrativa do filme é amplificada pela presença do Rio Negro, que não apenas conecta as histórias, mas também simboliza a fluidez e a resistência dessas culturas frente às adversidades. No entanto, “O Contato” não se limita a um retrato de dor e perda. Há, em suas tramas, uma resiliência palpável, uma resistência que se manifesta na preservação dos laços familiares, na transmissão de conhecimento e na luta pela sobrevivência cultural. É um filme que, ao mesmo tempo em que nos confronta com realidades difíceis, também nos oferece uma janela para a beleza e a complexidade das culturas indígenas brasileiras. Por fim, o sucesso do filme em festivais como o “É Tudo Verdade” e o Festival Internacional do Novo Cine Latino-Americano, em Cuba, apenas reforça sua relevância e qualidade. “O Contato” é, sem dúvida, uma obra essencial para quem busca entender mais profundamente o Brasil, suas origens e os desafios enfrentados pelos povos que primeiro habitaram esta terra. É um documentário que não só informa, mas transforma, desafiando o espectador a repensar suas percepções e a valorizar a diversidade cultural do país.
Alien Romulus (2024) – Review
Fede Alvarez depois do remake de A morte do Demônio (Evil Dead,2013), Homem nas Trevas (Don’t Breathe,2016), criação e direção da minissérie Calls da Apple TV+, cito essas produções por serem bases criativas de Alien Romulos que consegue ter identidade e trazer a cadência marcada na direção de Ridley Scott. Logo de cara somos jogados no meio da trama e apresentados aos dispositivos narrativos que irão prosseguir e desenrolar todos os pontos chaves do roteiro em um momento crítico de reação a uma ação de um universo e organização já estabelecidas que em poucos minutos se é apresentada, causando urgência e ligação com a problematica que os personagens estão inseridos. Gosto de como Alien Romulos faz uma releitura do universo já concebido e trabalhado pelos 7 filmes anteriores, entrando em profusão perfeita entre ação e horror com momentos cadenciados que fazem você segurar o ar junto com o personagem. Para além da cadência, caracteristicamente ligado a sua identidade autoral, o trabalho de ambientação é absurdo desde a homenagem linda à consistência imagética que os espaços trazem consigo. Aqui a urgência não é apenas o corre corre habitual que um filme atmosférico de terror oferece e traz consigo na sua base, mas sim uma gradativa sensação de desconforto e desamparo de que nada ali pode ou deve dar certo, um mal agouro constante que beira o sadismo pois por mais que os personagens estejam sofrendo e nos sabemos que tudo pode ficar ainda pior, queremos mais criaturas, mas bizarrices e todas aquelas gosmas e excrementos que cercam todo o design de produção. Design de produção esse que se beneficia muito de onde nossos personagens estão alocados e em como esses espaços irão manipular nossas emoções intrinsicamente alinhadas ao roteiro e nas vidas de cada um ali que anseia pela liberdade, pelo desprendimento industrial que acaba por se tornando trágico em um banho de sangue e gorro que acompanhamos vidrados. Alien Romulus trás consigo a lógica de horror espacial, ficção científica e um drama que apesar de se bastar nas entrelinhas está na vastidão do espaço com muitos perigos e uma falsa liberdade deliberada por humanos e sua vontade incontrolável de poder por tudo e todos. Filmaço.
Subterfúgios de uma estrada sem fim – Review Mais pesado é o Céu (2023)
Aqui temos um belo melodrama que passeia fluidamente em vários sentimentos pontuais para que sejamos fisgados pela trama como se tudo partisse da lógica da paisagem e do cenário árido e melancólico com tons de horror e cheio de identidade. Um road movie em uma estrada de incertezas e subterfúgios que parece nunca ter fim. Antônio, vivido por Matheus Nachtergaele em poucos minutos de filme tem uma conversa com um caminhoneiro que logo nos conta todo o background daquele personagem, de onde veio e do que está atrás, e isso é uma lógica que a narrativa e texto do filme abraçam pra contar a história dos personagens e construir as personas deles sem que o filme pare para nos contar isso. As alegorias que, portanto, são importantíssimas para a trama e ajudam a esse filme na sua composição e mise en scene fazem com que o ritmo e progressão andem juntos, mesmo que os próprios personagens cada vez mais estejam presos no lugar onde estão, com um único lampejo de felicidade e inocência que é o que os conecta. Me remeteu muito à “O que Ficou para Trás”, produzido pelo Netflix no ano de 2020 que muito se fala sobre o seu lugar no mundo, o que foi perdido, o que você irá perder e fantasmas do futuro que você está criando no presente que se tornará o seu passado. Que vezes mais pesado é o Céu flerta aqui usando a casa em que eles estão como um lugar quase sobrenatural com uma força ancestral que infelizmente acaba por ficar no caminho da narrativa. Narrativa essa que acaba por nos dar não só sofrimento e a busca pela mínimo em cenas de tortura sexual para com a mulher, que é onde para mim, perde força, e não pelo ato em si, mas sim em como o filme abraça o impacto dessa tragédia anunciada em cenas gráficas e expositivas como muleta pra dar substância e estímulo sendo que no seu próprio universo no rádio em alguns momentos se é falado sobre um assassino que vem fazendo vítimas. Gosto de como Ana Luiza Rios trabalha com a fisicalidade pra construir sua personagem falando as vezes apenas com o olhar e em como seu corpo fica com peito estufado, ou diminuta diante de uma realidade difícil de mudar na qual ela se encontra. Mais pesado é o céu é um longa que se mantém astuto e lindo durante toda sua duração, mas que tropeça por não nos fazer torcer para com nossos personagens indo para um caminho de tortura que mais faz você questionar a escolha criativa de como abordar o sofrimento em meio a tantos dispositivos que foram criados durante o filme. Mas com certeza Petrus Cairy é um diretor para ficar de olho em seus próximos trabalhos.
“Armadilha” que prende e surpreende – Review (Trap,2024)
“Há um fantasma na minha casa, e ele está usando minhas roupas.” Poucos diretores carregam consigo uma autoridade cinematográfica tão grande quanto Manoj Nelliattu Shyamalan e isso ele traduz em todas suas obras sem quaisquer amarras fazendo com que suas ideias virem experiências da vivência do diretor que por um acaso iremos presenciar em suas narrativas criativas e cheias de identidade, e armadilha é o exemplo perfeito disso. Se em A visita (The Visit,2015) o diretor usa o found footage como motivo e forma daquele universo existir em sua linguagem, aqui ele aborda um certo caos formalista que muito se tem profusão dentre todos eles e nos entregando uma comédia de erros com tons muito bem estabelecidos de terror e em como ele referência obras clássicas dos gêneros seja Halloween (Halloween,1978) de John Carpenter ou Pânico (Scream, 1996) de Wes Craven de diretores igualmente criativos. Um aceno lindo que fica implícito em vários momentos do longa, fazendo até uma alusão vezes explicita ao universo que ele mesmo criara com a trilogia iniciada com Corpo Fechado (Unbreakable, 2000), e isso é algo que dentro da trama funciona demais e maneira com que ela vai se construindo, estudando a psique do personagem Josh Hartnett, Cooper. Quando eu falo em “comédia de erros” me vem em mente também o recente O Assassino (The killer,2023) de David Fincher na qual a tecnologia é sua maior e melhor aliada em ligação direta com sua sociopatia atiçada pelo seu trabalho e o ajudando nas relações e como tais portas e acessos irão lhe ser dados. Aqui, de maneira jocosa e hilária Shyamalan nós jogamos na pele de um Serial Killer criando primeiro a persona “comum” dele, mas não por motivos convencionais, mas sim como estudo de personagem em como Cooper flutua e passeia entre suas personas estando sempre em uma linha tênue, usando da sociopatia para conseguir acesso onde ele bem entender. E mesmo que todo aquele show, literalmente criado para o filme da Lady Raven (Saleka Shyamalan) e como isso vai dialogando seja como aceno para uma talvez experiência que ele tivera com a filha e isso fez ele criar uma situação limite dentro desse universo para que sua filha seja a grande estrela do show como mais um aceno parental e nostálgico do que propriamente não apenas um trabalho qualquer do diretor. Shyamalan gosta de trabalhar memorias, a sociedade em grandes situações em um escopo pequeno com traços e críticas sociais seja em Dama na Água com um crítico de cinema que não entende de cinema e e vê ele como apenas uma formula e perdeu o encanto com aquilo que tanto ama, seja em Armadilha em como ele arma todo um show para claramente criticar a segurança, infraestrutura e as facilidades com que contatos são estabelecidos nesses espaços. Espaços esses que trazem uma parcimônia inacreditavelmente aconchegante, mas não pela situação em si, mas pelo cinema de M.Night trazer esse senso, em como ele manipula nossas emoções a partir das formas como ele traduz sentimentos nas imagens e texto, e que, mesmo que o Serial Killer esteja dentro de um lugar com muitas possíveis vítimas, o máximo de tranquilidade que podemos ter é dele estar ao menos estar enclausurado, não só enclausurado mas sendo caçado em uma lógica completamente slasher de caça e caçador com uma pessoa que estuda nosso personagem principal enquanto nós como expectadores somos apresentados a ele e todas suas nuances e estamos seguindo ele de maneira como nos mesmo estivéssemos atrás dele mas não pelo mesmo motivo da psicóloga comportamental. Armadilha é um filme fluido, consciente que diverte e mantem tenso em toda duração sendo usado de todos as ferramentas estabelecidas durante o longa para sua própria narrativa nos entregando emoções ligadas diretamente com nossa ligação e lugar comum de ser apenas um show e partir dali o verdadeiro “espetáculo” acontece. Espetáculo que faz alusão ao fato de horas estarmos torcendo pelo nosso protagonista da maneira mais mórbida possível pois queremos ver o filme desenrolar e em como o diretor vai trabalhar a próxima grande escapada do assassino, e isso é algo genial que já foi trabalhado na 3 temporada de True Detective, a maneira mórbida com que esse tipo de abordagem é tratado hoje em dia e o circo midiático em cima de tudo isso é algo que o diretor trabalha com maestria.
Review O Último Pub (The Old Oak,2023)
Meu primeiro contato com o cinema de Ken Loach e eu gostei como ele constrói seus personagens cinzas que são trabalhados ao redor de cada vivência e o viés político e social que profusamente está intrínseco à todas as causas e consequências que levam todos ao seus status mais precioso: a humanidade. Para além de um cinema denúncia que muito funciona, mas vezes parece não saber como isso relacionar isso a narrativa. O longa se passa em uma pequena cidade mineira que enfrenta o declínio econômico após o fechamento das minas de carvão, uma história frequentemente narrada nas obras de Loach. O filme explora o impacto dessa perda em uma comunidade já abalada e como a chegada de refugiados sírios exacerba as tensões. No centro da narrativa está TJ Ballantyne (interpretado por Dave Turner), o dono do pub local “The Old Oak”, que tenta, com grande dificuldade, manter seu negócio e o espírito comunitário vivo. Loach utiliza o pub como uma metáfora para o estado de desintegração da sociedade britânica, onde as antigas tradições e a solidariedade comunitária estão em risco. A chegada de Yara (Ebla Mari), uma jovem síria, e sua família, provoca um choque cultural e social. No entanto, é através de sua interação com TJ e a comunidade que o filme expõe a possibilidade de empatia e entendimento entre pessoas de diferentes origens. Uma obra que fala sobre a importância da solidariedade em tempos de crise, a xenofobia e os desafios enfrentados pelos refugiados. Loach não se afasta de temas difíceis, como o racismo e a perda de identidade cultural, mas também oferece uma visão de esperança através da união e compreensão mútua. O filme é um chamado à ação e à reflexão sobre como tratamos o “outro” em nossas sociedades. “The Old Oak” é um filme poderoso e comovente, que examina a fragilidade e a força das comunidades diante das adversidades. Não é apenas um testemunho dos tempos modernos, mas também um apelo emocional para a empatia e a ação coletiva. Para os fãs de Loach e para todos aqueles interessados em histórias que refletem a realidade social, este é um filme imperdível. Estreia 08/08 (quinta-feria) com distribuição da Synapse.
Deadpool & Wolverine (2024)
Por mais que Deadpool e Wolverine tente incessantemente pegar o publico pela nostalgia e pelas piadas na qual o personagem se segura, é como se tivessem aberto mão do roteiro e deixado apenas um fluxo de acontecimentos que muito provavelmente julgaram ser pra lá de especiais mas que na prática é apenas algo enlatado e direcionado pensando em um público muito especifico. O diretor da vez é o Shawn Levy que consegue deixar um filme completamente sem tato algum seja de logica narrativa, quanto de timing cômico e de um argumento palpável para que a existência do filme seja defensável ou até mesmo explicável, coisa que aqui é quase impossível, para além da falta de tesão em filmar esses personagens, é tudo tão pasteurizado e cínico que vezes dá até gastura em acompanhar uma trama que vai de set em set sem dizer exatamente NADA. A logica por de trás de ”filme do Deadpool” é quase nula pois para além de um drama já trabalhado nos outros dois filmes anteriores do anti-herói, a adição do Wolverine fica carecendo de um olhar sob ele, uma trama pra chamar de sua e desenvolvimento para que ele consiga ter momentos para brilhar. E isso não é um problema de elenco, pois todos estão bem em seus papeis, desde Ryan Reynolds como Deadpool, até Emma Corrin (The Crown) como a vilã Cassandra Nova, irmã de Charles Xavier, que acaba por cair no mesmo deslize que tantos outros vilões sofrem na Marvel; Vilões fortes com múltiplos poderes e um leque de tantas maneiras de se trabalhar tal personagem que acaba virando apenas uma amostragem de seus poderes em momentos específicos, na maioria das vezes decisivos. Mas nem tudo é de todo mal. O pensamento por de trás disso tudo que apesar muito verbalizado, nada se faz com isso diretamente, seja pela falta de sentido, quanto por isso acabar por não carregar por si só alguma linguagem cinematográfica pertinente a trama, é a abordagem sobre a venda da Fox, sobre os heróis dela, sobre esquecimento, só que até ai, pensando agora, parece uma logica errática a partir do momento em que a Disney está fazendo esse filme como se ela desse uma batidinha na costa da Fox, com uma ”homenagem” de muito do seu mau gosto. Aqui temos um filme que por mais que tente muito ser autoconsciente e diferente, acaba por ser totalmente formulaico e batido, na sua própria narrativa e escolhas de como vai ser contada essa historia que pouco se tem a oferecer. Um verdadeiro enterro da Fox da pior forma e mais cínica possível o quanto eles conseguiram, as tais aparições bombásticas pouco se tem e são usadas em um cenário pobre e cheio de problemas, que não faz nem jus aos filmes da Fox que em retrospecto a esse, nossa senhora… Deadpool e Wolverine diverte em momentos bem específicos mais trabalhando com essa dinâmica de multiverso que tanto fez mal pra própria fórmula já batida da Marvel faz com que para além de ser uma produção que se diferencia muito das outras, não por mérito próprio, mas sim pelo diretor infelizmente ter essa identidade com falsa complexidade e falta de tato para com timing cômico é bizarro como Deadpool e Wolverine causa cansaço demais com momentos pontuais que você pensa “agora vai” mas nunca vai de fato.
Revisão Corra! (Get Out, 2017)
Em 2016 temos a premiere e primeira temporada da série de Donald Glover Atlanta, um drama cômico sobre arte, cultura, e comentários raciais pontuais de acordo com toda uma vivencia cultura de Childish Gambino, encarnado no seu personagem Earn, da série. Aqui em Get Out, Jordan Peele segue quase que a mesma logica, mas aqui vindo de Key and Pelle (2012-2015) série de esquetes cheias de criticas sociais, verborrágicas e muito criativas. Como sendo seu primeiro trabalho na direção, Peele dirigi e roteiriza o longo integralmente e veio a ser um dos destaques do seu ano, tendo até uma surpreendente indicação ao Oscar por ser filme de gênero. Esse texto está sendo redigido por conta de uma revisão feita 7 anos após a estreia de tal. Lembro que quando o filme marcado na memoria por conta de seu grande “plot twist” e o filme foi acabando por ficar na minha memoria apenas com a virada dele sem que a construção até lá se fizesse efetiva. Claro, eu lembrava de cenas, alguns diálogos e piadas pontuais, mas com uma cabeça totalmente diferente, fez bem mais sentido e ficou claro um sentimento que eu sempre tinha ao pensar nesse filme. Por mais que o filme seja dinâmico na sua narrativa e vezes fluido, nessa segunda visita acabei por sentir uma certa sensação de pausa na virada do segundo para o terceiro ato como se o filme acontecesse toda uma tensão continua no primeiro ato e na hora de costurar o detonante para que o Clímax venha como um soco no estomago, ao meu ver ele fica no meio do caminho e até mesmo não tendo grande impacto a virada no roteiro por si só, mas sim pela criatividade do que fora criado a partir da tensão e mistérios. Isso não diz respeito a qualidade cinematográfica do longa, mas sim um vicio e até mesmo lugar comum que o diretor viera, sendo ele as esquetes. Eu penso nesse filme como algo blocado que você sente bastante esse peso na construção de atos e como os interliga para com a construção da trama inteira, fazendo com que tenha vários momentos entre um ato e outro que você simplesmente não sente nada e tampouco se lembra. Para além, consigo enxergar, na mesma logica de que ele estava com a cabeça vinculada as esquetes (que ele mesmo protagonizava com Keegan-Michael Key, um personagem espelhado em uma realidade fantasiosa que Peele já deixava claro quais eram suas inspirações fantásticas e em como ele enxerga os personagens dele como ele mesmo, ou até mesmo como um personagem “orelha” que muito tem a se dizer quando você sobrepõe a visão de de alguém que pode estar influenciado ou não sobre a logica mercadológica em que Peele está. Que mesmo com os olhos abertos, pode ter sua realidade influenciada e tornando ainda mais vivido o roteiro de Get Out como um recado para ele mesmo, dado seus próximos trabalhos. Corra! não deixa de ser um ótimo filme, que catapultou o nome de Peele para um hall de diretores estrelados e que muito se tem a esperar dada a criatividade e a maneira com que ele flerta com vários gêneros da maneira mais orgânica possível. E por mais que eu tenha uma experiência agradável com o longa, ao final fiquei com uma sensação de fadiga como se o filme durasse até mesmo mais do que sua pequena duração de 1hr44m. Cômico e criativo. Memorável, mas pelo motivo errado.