Na noite desta terça-feira (4), Liniker foi consagrada como a grande vencedora do Prêmio Multishow 2024. Com o aclamado disco Caju, a cantora conquistou quatro categorias: Capa do Ano, MPB do Ano, Álbum do Ano e o cobiçado prêmio de Artista do Ano. Ao receber os prêmios, Liniker emocionou o público ao refletir sobre sua trajetória:“Ser reconhecida nessa categoria, com esse disco que sonhei primeiro sozinha e depois construí com tantas outras mãos, aponta não só para o futuro, mas celebra o presente com o melhor que pude fazer para mim, resgatando a crença em quem sou e me permitindo existir.” A noite também foi marcada por grandes momentos de outros artistas. Anitta, homenageada da edição, levou os prêmios de Funk do Ano e Clipe TVZ do Ano com Mil Veces. Lauana Prado destacou-se ao vencer as categorias Hit do Ano e Sertanejo do Ano, enquanto Zaynara, cantora paraense, foi eleita Revelação do Ano. O evento, apresentado por Tadeu Schmidt, Tatá Werneck e Kenya Sade, celebrou a diversidade e o talento da música brasileira. Confira os principais vencedores: Artista do Ano Álbum do Ano Hit do Ano Revelação do Ano Funk do Ano Clipe TVZ do Ano Liniker reafirmou sua relevância no cenário musical brasileiro, enquanto a premiação destacou a força da diversidade artística do país.
Sátira Ambiciosa que Tropeça em Seu Próprio Excesso – O Clube das Mulheres de Negócios (2024) Review
O Clube das Mulheres de Negócios, de Anna Muylaert, se apresenta como uma obra que combina humor corrosivo, crítica social e uma estética tropical vibrante, refletindo as contradições de um Brasil contemporâneo. Retomando o tom sarcástico de seus primeiros trabalhos, Muylaert constrói uma narrativa que transita entre o grotesco e o cômico, explorando questões de gênero, poder e desigualdades de forma provocativa. No entanto, ao longo de sua trajetória, o filme parece se emaranhar em suas próprias escolhas estilísticas, transformando-se, em alguns momentos, em uma sátira de si mesmo. A grande força do longa está na construção de personagens deliberadamente exagerados. Katiuscia Canoro entrega uma performance marcante como uma “redpill” de gênero invertido, mergulhando na caricatura com energia selvagem e domínio cênico. Sua personagem encapsula a essência satírica da obra, desafiando os limites entre o riso e o desconforto. Rafa Vitti, por outro lado, surpreende ao trazer vulnerabilidade ao seu papel, complementando as dinâmicas de poder que permeiam a narrativa. Esses contrastes dão ritmo à história, tornando-a instigante em sua mistura de humor e tensão. Contudo, é justamente na tentativa de equilibrar o absurdo e a crítica que o filme se perde. A necessidade de explicitar suas ideias – seja por meio de diálogos que reforçam o óbvio ou de imagens que sublinham o que já está claro – dilui a força de sua mensagem. A sátira, que inicialmente se posiciona como afiada e certeira, começa a escorregar para o exagero sem propósito, aproximando-se de uma paródia de sua própria proposta. Os momentos mais didáticos, que tentam direcionar o espectador para interpretações específicas, acabam soando como um descompasso entre o discurso ambicioso e a execução prática. Além disso, o excesso de personagens e subtramas contribui para a sensação de dispersão. Há muitas ideias interessantes no filme, mas nem todas encontram o espaço necessário para serem desenvolvidas de maneira significativa. Em meio ao caos narrativo, algumas figuras se tornam apenas rascunhos, e a sátira, que deveria ser o fio condutor, perde força à medida que o longa tenta abraçar mais do que consegue sustentar. Por outro lado, essa natureza caótica e autorreferencial também pode ser interpretada como uma escolha deliberada de Muylaert, um reflexo da fragmentação e confusão do próprio mundo que o filme retrata. Ainda assim, o resultado final é ambíguo: em alguns momentos brilhante, em outros excessivo e autoconsciente. O Clube das Mulheres de Negócios é, assim, uma obra fascinante por suas intenções e ousadias, mas irregular na execução, oferecendo um retrato tão incisivo quanto confuso de uma sociedade em colapso.
Primeiro trailer do live-action de Lilo & Stitch é divulgado pela Disney
O remake live-action de Lilo & Stitch teve seu primeiro trailer divulgado, com destaque para o carismático alienígena Stitch, que aparece causando caos em uma praia. Dirigido por Dean Fleischer Camp (Marcel, a Concha de Sapatos), o filme traz de volta Chris Sanders como a voz de Stitch. Inicialmente planejado para estrear no Disney+, o projeto foi confirmado como um lançamento exclusivo nos cinemas. O elenco conta com Sydney Agudong no papel de Nani, além de Zach Galifianakis, Billy Magnussen, Courtney B. Vance e Tia Carrere. A animação original, lançada em 2002, acompanha a história de Lilo, uma garotinha solitária no Havaí, que encontra um inesperado amigo em Stitch, um alienígena criado para ser uma máquina de destruição. O live-action tem estreia marcada para 23 de maio de 2025.
Um Ritual Cinematográfico de Exumação Histórica e Resistência – Praia Formosa (2024) Review
O filme Praia Formosa, de Julia de Simone, estabelece um diálogo instigante entre passado e presente, escavando não apenas os vestígios materiais de uma história dolorosa, mas também as camadas emocionais e sociopolíticas que permanecem assombrando o Brasil contemporâneo. Partindo de uma perspectiva de terror arqueológico, a obra transcende o tradicional para propor uma experiência híbrida e fragmentada, que é tão inquietante quanto necessária. O núcleo temático do filme — a exposição literal e simbólica das marcas deixadas pela escravidão no contexto da reforma urbanística do Porto Maravilha — é tratado com coragem e sensibilidade. Julia de Simone não permite que o passado permaneça acomodado ou enterrado; ela o desenterra, confronta, e força o público a encarar aquilo que muitas vezes é ignorado. Este gesto ressoa como um ato de resistência, uma tentativa de interromper o esquecimento e criar espaço para reflexão. Embora este seja o primeiro esforço ficcional da cineasta, Praia Formosa rejeita estruturas narrativas tradicionais em favor de uma abordagem fragmentada, que ecoa a ideia de peças quebradas de um objeto desenterrado. Essa escolha é eficaz para refletir a forma como o passado é reconstituído: nunca de forma completa, mas através de fragmentos — documentos históricos, performances, e encenações que se justapõem ao vazio de um presente ainda marcado por essas feridas. A construção estética do filme é tão multifacetada quanto seu tema. As cenas da personagem solitária caminhando por espaços desertos, como túneis de luz fria e ruas vazias, evocam uma sensação de isolamento e desolação que captura a ausência tanto física quanto espiritual de vidas perdidas e esquecidas. Esses momentos performáticos contrastam com os resgates históricos e depoimentos, criando uma textura audiovisual rica e desconcertante. Ao fundir performance, documentação, pesquisa e ficção, Julia de Simone desafia as categorias convencionais do cinema. Essa abordagem, embora possa afastar espectadores que esperam uma narrativa mais linear, é coerente com a intenção do filme de perturbar e provocar. Cada fragmento do filme carrega um significado próprio, mas é na justaposição que eles encontram maior impacto. A direção de Julia de Simone se destaca pela ousadia de enfrentar o trauma histórico sem oferecer respostas fáceis ou uma catarse reconfortante. Ao invés disso, Praia Formosa funciona como um ritual cinematográfico de exumação, onde a diretora se torna uma arqueóloga não apenas de objetos, mas de memórias. Sua visão é deliberadamente desconfortável, como se buscasse criar uma ponte entre o espectador e o peso tangível da história. No entanto, essa abordagem arriscada pode alienar parte do público. O ritmo do filme e sua estética minimalista — marcada pelo vazio e pela repetição — podem ser interpretados como difíceis ou excessivamente abstratos. Ainda assim, essa escolha estética é um reflexo apropriado da complexidade do tema e do estado emocional que ele evoca. O timing de Praia Formosa é particularmente relevante. Em um Brasil onde o passado colonial continua a influenciar profundamente questões sociais, econômicas e culturais, a obra de Julia de Simone atua como um espelho incômodo. Ela desafia a amnésia histórica, revelando que o que está enterrado nunca desaparece completamente. O conceito de “terror arqueológico” é brilhantemente explorado, pois o filme transforma a escavação do passado em uma experiência assombrosa e perturbadora. As cicatrizes deixadas pela escravidão, representadas pelos espaços comerciais onde pessoas eram tratadas como mercadorias, adquirem uma dimensão quase fantasmagórica — são mais do que ruínas; são testemunhas silenciadas de um horror ainda presente. Praia Formosa é uma obra que mistura ousadia criativa e relevância histórica de forma singular. Embora sua fragmentação formal e seu tom desolador possam não agradar a todos, é exatamente essa ruptura com as convenções que dá ao filme sua força e autenticidade. Julia de Simone cria um convite — ou, talvez, uma convocação — para refletir sobre as histórias que insistimos em enterrar e sobre as formas como o passado continua a moldar nosso presente. Praia Formosa é um filme que não apenas narra, mas também performa e questiona, tornando-se não apenas um produto artístico, mas uma intervenção política e emocional no tecido histórico brasileiro.
The Game Awards 2024: Confira a lista completa de indicados
The Game Awards 2024: Lista de Indicados é Divulgada A décima edição do The Game Awards revelou seus indicados, destacando grandes nomes em categorias como Jogo do Ano, Melhor Direção e Jogo Indie. Entre os destaques para Jogo do Ano estão Elden Ring: Shadow of the Erdtree, Black Myth: Wukong e o indie Balatro. Outros títulos de peso, como Final Fantasy 7 Rebirth, Metaphor: ReFantazio e Astro Bot, também garantiram suas vagas em diversas categorias. As indicações foram anunciadas por Geoff Keighley, apresentador e organizador da premiação, que acontecerá em 12 de dezembro com transmissão ao vivo. Lista Completa de Indicações Jogo do Ano Melhor Direção Melhor Narrativa Melhor Direção de Arte Melhor Trilha Sonora Melhor Design de Som Melhor Performance Inovação em Acessibilidade Jogos de Impacto Melhor Jogo em Andamento Melhor Suporte para Comunidade Melhor Jogo Indie Melhor Jogo Indie Estreante Melhor Jogo Mobile Melhor Jogo de RV ou RA Melhor Jogo de Ação Melhor Jogo de Ação e Aventura Melhor RPG Melhor Jogo de Luta Melhor Jogo para Família Melhor Simulador ou Jogo de Estratégia Melhor Jogo de Esporte ou Corrida Melhor Adaptação Jogo Mais Aguardado Criador de Conteúdo do Ano Melhor Jogo de Esports Melhor Atleta de Esports Melhor Equipe de Esports Melhor Jogo Multiplayer Outras categorias incluem Melhor Direção de Arte, Melhor Trilha Sonora, Melhor Jogo Indie e Inovação em Acessibilidade. A competição também celebra o impacto cultural e social dos jogos com categorias como Jogos de Impacto e Melhor Adaptação. Com quase 30 categorias no total, a premiação reflete a diversidade e a excelência da indústria de games em 2024. Não perca a transmissão para conhecer os vencedores!
Live-action de Como Treinar o Seu Dragão revela primeiro trailer
Mason Thames (O Telefone Preto) viverá Soluço, e Nico Parker (The Last of Us) será Astrid no live-action de Como Treinar o Seu Dragão. O elenco ainda conta com Nick Frost (Chumbo Grosso), Julian Dennison (Deadpool 2), Gabriel Howell, Harry Trevaldwyn, Bronywin James e Ruth Codd. Gerard Butler, que dublou Stoico nas animações da DreamWorks, retorna no papel do pai de Soluço. A franquia animada, baseada na série de livros de Cressida Cowell, é um dos maiores sucessos da DreamWorks Animation, com três filmes lançados entre 2010 e 2019 e uma bilheteria acumulada de mais de US$ 1,6 bilhão. A história acompanha Soluço, um jovem viking que desafia a tradição de lutar contra dragões ao fazer amizade com Banguela, um dragão Fúria da Noite. Juntos, eles provam que humanos e dragões podem viver em harmonia, enfrentando diversas aventuras ao longo dos anos. O live-action foi anunciado em fevereiro de 2023, com as filmagens iniciadas em maio, pouco antes da paralisação de Hollywood. Originalmente previsto para 12 de março de 2025
Arte como testamento – A Semente da Figueira Sagrada (2024) Review
É impossível falar de “A Semente da Figueira Sagrada” sem abordar o contexto de sua produção, seja político ou do próprio diretor e o quanto o Irã foi relutante no lançamento e distribuição desse longa, o que já o torna uma cápsula de história deixada para a posteridade tanto como forma de alerta em um possível futuro onde não haverá mais aquela realidade, seja para a reverberação mundial de um fato através da arte. Mohammad Rasoulof aqui brinca com seu título e como trabalha as várias possibilidades através de suas lentes, com um suspense crescente dentro de uma realidade cruel e brutal resolvida e acompanha dentro de uma residência e os impactos dessa repressão política e religiosa afeta indiretamente tudo e a todos dentro de um país. A semente planta a intriga, é dela se planta a narrativa, partindo da ficção para escancarar a realidade. O ficcional aqui se é usado a partir de uma família que sofre as cegas pelo patriarcado arcaico à imagem do pai da família interpretado por Missagh Zareh que está excelente e sabe ir desde uma pessoa singela que se sente culpado por julgar alguém sem ler o processo, até uma entidade maléfica moldada pelo sistema como um todo fazendo com que o ritmo do filme parece cada vez cadenciar ao passo em que a tensão vai tomando conta. O seu maior dispositivo de suspense aqui se encontra em uma arma, sendo antítese da moralidade egoica do personagem que tanto quer o bem de sua família a partir de sua própria vitória e bem estar no trabalho sendo regido pela matriarca que tem a ilusória sensação de estar em controle de tudo e todos que moram ao seu redor. Um descontrole emocional e pulsante vai tomando conta e transbordando a tela quando se vão tomando decisões amorais, que não que sejam muito contraditórias pela realidade retratada, mas sim dos personagens e como eles são construídos. É como se os personagens se moldassem ao fantasma invisível e individualista do sistema herdando sua brutalidade da maneira mais frontal possível sendo contraído a partir do trauma e medo. Trauma e medo esses que são usados aqui quase como um flerte para com o cinema de gênero usando dos espaços a margem da moral, uma materialização na composição de cenas mostrando sutilmente a não existência de dualidades, a esquematização da sobrevivência em prol da humanização sóbria que vamos acompanhando durante toda a trama. Os contextos e forma sequenciais de vídeos reais da internet como um grito de socorro, ditam e escancaram as realidades e qual papel do longa como arte, não gerando impacto, mas sim visibilidade, mas sim uma forma de dialogar com o restante do mundo algo que se perde nas penumbras da sociedade hegemônica que dita o que se deve ou não ser visto e o que tem ou não importância. A Semente da Figueira Sagrada é um filme que perdura as margens do cinema como linguagem e entrega uma experiência arrebatadora que com certeza é um marco só de podermos assisti-lo.
Trailer de ”De Volta a Ação” com Cameron Diaz e Jamie Foxx marca o retorno da atriz após 11 anos afastada
Cameron Diaz está de volta às telas após 11 anos afastada da atuação, estrelando o novo filme de ação da Netflix, Back in Action, onde reencontra seu antigo colega Jamie Foxx. A trama gira em torno de Emily e Matt, que, após deixarem a vida de espiões da CIA para formar uma família, são inesperadamente levados de volta ao mundo da espionagem quando suas identidades secretas são descobertas. O elenco do filme também inclui Kyle Chandler, Andrew Scott, Jamie Demetriou, McKenna Roberts, Rylan Jackson e Glenn Close. Dirigido por Seth Gordon (The Office, The Good Doctor) e com roteiro coescrito por Brendan O’Brien (Vizinhos), o filme estreia em 17 de janeiro de 2025 na Netflix. Cameron já comentou anteriormente sobre os motivos de sua longa pausa na carreira de atriz. Vale lembrar que este filme também foi o projeto em que Cameron e Jamie estavam trabalhando quando ele sofreu uma emergência médica.
Transgressão a partir do lírico – Emilia Pérez (2024) Review
Por mais que eu consiga enxergar sua problematica se esvaindo no terceiro ato e uma certa dificuldade em moldar seu filme pelos inúmeros momentos e acontecimentos que perduram as vidas daquelas personagens diante e a partir da desilusão de vida de um traficante, não consigo desgostar de como o filme chega até lá e o que ele entrega em suas formas desde os musicais construídos como extensão da narrativa. A crescente tensão social e política dentro de um México fictício vai dando estofo à todas aquelas vidas ordinárias e a trama de redenção pessoal. Jacques Audiard tem várias narrativas intrínsecas em suas mãos e consegue mesclar todas elas com poucos blocos; Na realidade diria que é um filme muito fluido que se utiliza da forma musical de linguagem para seu próprio benefício e como um artifício de estímulo para o público, que me manteve bem empolgado com todas suas perfomances, sacadas e sua eloquente crescida nas maneiras artísticas e cada vez mais frontais em suas apresentações estilizadas como se ele subvertesse a lógica do musical como decupagem do seu longa. O melodrama que dá vazão aos sentimentos, usados como temática de suas músicas, esquematizadas como lacunas sensoriais, gritos e linguagem corporal para além do texto, para entrega de todas suas atrizes em tela. Quando a ação chega e vai em contradição com o que é plantado na trama como alicerce moral de Emília, não perdura, pois o cirurgião que fizera seu procedimento (em uma cena linda) dialoga sobre a “mudança” não vai necessariamente “mudar” nada, e em como tudo aquilo pode ser ilusório, mas mesmo assim realizando seu trabalho. As múltiplas questões de todas suas personagens, seja a penumbra da personagem de Zoe Saldana, as nuances da estruturação pessoal a partir do olhar machista e desumanizado na personagem da Selena Gomez e o ciclo sem fim de violência apartidária como sua própria redenção, ou como sua própria derrocada na personagem de Emília Pérez indo e trabalhando muita bem as variações que fazem com que a construção interpessoais de Emília vá além da sua presença; Ela é uma entidade filosófica banhada de simbologias e signos tratados durante a trama e que Audiard vai deixando pela trama. A abordagem mais teatral de como trazer essa tragédia anunciada com dramas humanos e erráticos são uma das frontalidades mais legais de acompanhar fazendo a experiência de Emília Pérez nunca pare, seja divertida, fluida e com certeza muito memorável. Em contraponto, trago justamente seu terceiro ato, que acaba por se tornar um ponto baixo não pela maneira com que ele chega ou como ele é trabalhado, mas sim como ele é abordado, digo de ritmo mesmo, a ação não há pausas escabrosas intermináveis de tiros pra todo lado, há algo a mais ali naqueles tiros, mas a abordagem limpa de uma ação e escolhas inverossímeis com o que havia sido criado torna um momento falho deslocando ele do resto do filme. Emília Pérez é um grito expressivo de autoridade e do fantástico como forma de contar uma história tão crível tecida a partir de críticas e debates sociais, construídos a partir das personagens, cada uma com suas problematicas trazendo consigo uma correlação e ligação abstrata da realidade sendo abordada a partir de representação musicais que dão ritmo e fluidez aos movimentos e imagens ilusórias de lutas sem fim de uma sociedade regidas pelos sonhos de alguém e os impactos de um passado violento que parecem nunca ter fim, nem ao mesmo quando você “muda” por completo. Um ciclo sem fim e de muitas consequências reais.
Memorias da repressão como retrato social – Malu (2024) Review
Desde sua cena inicial Pedro Feire retrata sua mãe com apenas falas inigualáveis de uma personagem moldada pela repressão, imprimindo na sua realidade geracional uma agressividade passiva travestida de libertinagem escancarando uma cicatriz de um época que vive as margens de um quase retorno diabólico, mesmo na sua figura materna que tanto julga a escolha de vida da filha, e o seu próprio rancor com a geração da filha que não faz barulho, que é muito quieta e não dá valor a arte do teatro. Teatro esse que está, estará e esteve presente em toda sua passagem na terra através de um olhar apaixonado pela arte, mas não pela sua própria vida como se as memórias áureas de uma distante realidade fossem equivalentes e reais dentro de outra lógica social, humana e cultural. Aqui os planos e locação são diálogos pertinentes da sobrevivência e resistência da cultura e arte através de uma personagem errática, mas muito apaixonante e correlacionável. Toda suas nuances e a vazão do trauma como forma de exílio existencial são dialogadas para além de apenas linguagem cinematográfica, mas sim na brilhante Yara de Novaes trazendo uma imagética viciante e inerente sem que precise de diálogos verborrágicos. Uma eloquência corpórea dentro da lógica teatral da atuação que é lindo de acompanhar e como a presença dela molda os espaços onde ela se encontra, de acordo com seus sentimentos. A trama enfatiza a tumultuosa relação entre Malu e sua mãe, Lili, com frequentes confrontos e intensas trocas de acusações, revelando uma combinação paradoxal de afeto e crueldade. A chegada de Joana, filha de Malu, intensifica esses conflitos, permitindo que Freire aborde temas como rebeldia, traumas herdados e opressão familiar e social. As atuações das três protagonistas se destacam por capturar a intensidade emocional e a instabilidade dessas personagens, que oscilam entre o amor e a hostilidade, enquanto discutem questões de política, identidade e gênero. Com um foco na luta de Malu para resgatar sua dignidade e legado artístico, o filme evoca referências cinematográficas como Grey Gardens e Bad Living, acrescentando um contexto brasileiro que ressalta tanto a vulnerabilidade quanto a resiliência da protagonista em uma sociedade conservadora. O filme também se sobressai pelo tom claustrofóbico e uma estética visual que intensifica a tensão entre as protagonistas, evidenciando o ciclo de conflito e afeto que define as relações entre essas mulheres.