Único cardeal da Amazônia brasileira, Dom Leonardo Steiner, de 74 anos, afirmou, em entrevista ao O Globo, que a Igreja precisa atuar na política e ajudar no combate aos problemas sociais. “Não estou falando de política partidária, mas de sermos ativos na sociedade. Essa é uma obrigação nossa”, defendeu. O arcebispo de Manaus contou que se emocionou quando Leão XIV atingiu os votos necessários para virar Papa: “Foi um aplauso sem fim”.
Arcebispo de Manaus (AM), Steiner havia entrado na lista de papáveis para a votação no Conclave, o processo dos cardeais da Igreja Católica para eleger o pontífice que substituiu o papa Francisco, que morreu no dia 21 de abril deste ano. A informação foi divulgada na Agência de Notícias Reuters.
Steiner foi nomeado bispo por João Paulo 2, em 2005, e também foi secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) por dois mandatos. Ele se tornou bispo auxiliar de Brasília por indicação de Bento 16. Como cardeal, desde 2022, passou a compor o Colégio Cardinalício, responsável pela eleição do Papa.
Veja a entrevista com Dom Leonardo Steiner:
Leão XIV disse ter compromisso com a doutrina social da Igreja. Como atualizá-la para hoje?
Somos pessoas que creem e participam da vida em comunidade. A Igreja não está fora da realidade. Deve estar presente na política, por exemplo. Não falo da política partidária, mas de sermos ativos na sociedade. É obrigação nossa. Leão XIII foi o Papa da Rerum novarum, que abordou a questão do trabalho. Hoje a inteligência artificial está substituindo o trabalhador. Leão XIV quer dar uma contribuição a essa realidade.
O que a Igreja pode fazer?
Colocar o tema em discussão, refletir, aprofundar. Francisco, que fazia isso muito bem, já havia dito que a inteligência artificial não substitui a inteligência humana.
Francisco enfrentou críticas por defender a presença da Igreja na política.
O Papa Paulo VI disse que a política é o nível mais alto da caridade, do amor. A política trata do bem comum, da convivência humana. Francisco abordou a questão da economia, que hoje está na mão de menos pessoas. Pelas falas iniciais de Leão XIV, ele também tem uma sensibilidade muito grande para isso.
O senhor também já foi alvo de ataques da extrema direita no Brasil. Como a Igreja deve lidar com isso?
Não devemos dar importância, não vale a pena. O que importa é contribuir para uma sociedade mais justa, a solidariedade e a paz. Não estamos interessados no poder, estamos interessados em servir. A toda a Humanidade, independentemente de cor, religião ou opinião política. Agora, é preciso abertura para conversar. Isso está cada vez mais difícil. Não há possibilidade de escuta com determinados grupos, de tão apegados estão a determinada ideologia. Sem escuta, você não encontra o outro. E não se deixa encontrar pelo outro. Não é fácil, mas é nossa obrigação. Se Jesus disse que devemos amar os inimigos, como não amar as pessoas que pensam diferente?