Um vídeo que viralizou nas redes sociais nesta semana escancarou uma das técnicas mais agressivas de desmatamento ainda utilizadas no Brasil: o uso do correntão. As imagens, feitas por drone, mostram dois tratores de esteira ligados por uma corrente de aço gigante arrastando árvores inteiras ao solo, em uma área de floresta no Mato Grosso.
A cena chocou ambientalistas, estudiosos e o público em geral. Os tratores avançam lentamente, mas o impacto é devastador: árvores centenárias caem como dominós, animais são esmagados e o solo fica exposto e compactado. Segundo especialistas, o método não apenas destrói a cobertura vegetal, como também compromete a biodiversidade e a capacidade regenerativa da floresta.
Mesmo com legislações ambientais mais rígidas, o uso do correntão ainda persiste em algumas regiões do país — muitas vezes longe dos olhos da fiscalização. No livro História do Futuro, a jornalista Miriam Leitão descreve a prática como “a forma mais estúpida e primitiva de destruição da floresta”. Depois do arrasto vem o fogo, usado para limpar o terreno e preparar o solo para possíveis plantações. Um ciclo de devastação que se repete há décadas.
A reação nas redes sociais foi imediata. “O desmatamento precisa acabar. Uma floresta que levou séculos para crescer é destruída em segundos. Animais esmagados. Solo compactado. Biodiversidade perdida”, escreveu o vereador Leonardo da Costa, de Cachoeirinha (RS). Mas nem todos condenam. Alguns perfis ironizaram os críticos com frases como “Achou ruim, faz greve de fome” e “Produzindo comida para mimizento comer”.
Enquanto isso, o comércio do implemento segue ativo. Em sites como OLX e MF Rural, há anúncios de correntões de diferentes tamanhos e preços — de modelos seminovos a peças novas com “ótima performance para grandes áreas”.
O Amazonas também enfrenta desmatamentos agressivos
Embora o vídeo que viralizou mostre claramente o uso de correntões para derrubar árvores no Mato Grosso, no estado do Amazonas o cenário também é preocupante, ainda que as técnicas utilizadas variem. Em municípios como Humaitá, Lábrea e Apuí, localizados na porção sul do estado — região conhecida por estar dentro do chamado “arco do desmatamento” —, já foram registradas práticas intensas de degradação da floresta, incluindo queimadas em larga escala e uso de maquinário pesado.
Especialistas alertam que o padrão de devastação é semelhante: métodos agressivos de supressão vegetal, que incluem o desmatamento rápido, posterior uso do fogo e substituição por áreas de pasto ou agricultura. O solo fica compactado, a biodiversidade comprometida, e animais silvestres são frequentemente mortos ou expulsos de seu habitat natural.
Essas regiões têm sido alvo de operações federais de combate aos crimes ambientais. Uma delas foi a Operação Samaúma, deflagrada em 2021 com o apoio das Forças Armadas, Ibama, Polícia Federal e outros órgãos de fiscalização, para conter o avanço do desmatamento em áreas protegidas da Amazônia. A operação atuou em diversos municípios do Amazonas e resultou em apreensões de maquinário, aplicação de multas e destruição de acampamentos ilegais.
Outra ação relevante foi a Operação Verde Brasil 2, realizada entre 2020 e 2021. Ela teve o objetivo de combater crimes ambientais em nove estados da Amazônia Legal, incluindo o Amazonas. A operação também envolveu forças militares e órgãos ambientais, que atuaram de forma conjunta para desmobilizar frentes de desmatamento, coibir queimadas ilegais e recuperar áreas degradadas.
O problema, no entanto, continua sendo debatido por parlamentares, ambientalistas e órgãos de fiscalização, especialmente pela dificuldade de monitorar extensões tão grandes de floresta e pelo avanço da grilagem e da especulação fundiária. Em sessões no Congresso e assembleias legislativas, as políticas de fiscalização ambiental e os recursos destinados à preservação da Amazônia seguem em pauta — quase sempre, em embate com os interesses do agronegócio e da expansão territorial de grandes fazendeiros.
Com informações de:
Poder360, jornalista Bruno Blecher
ResearchGate
BNC Amazonas
Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam)