Se o primeiro episódio da temporada de The Last of Us plantou sementes de tensão e reconciliação fracassada, o segundo – “Through the Valley” – arranca tudo pela raiz. A morte de Joel não é só o momento mais brutal da série até aqui, mas um divisor de águas que ressignifica tudo o que vimos antes. O episódio, com ritmo afiado e atmosfera opressora, entrega mais do que um choque narrativo: ele destrói a bússola emocional da série e nos obriga a encarar a estrada sem ela.
Mesmo que os jogadores já esperassem esse acontecimento, a série trabalha bem o elemento da surpresa. O corte abrupto da presença de Pedro Pascal, que vinha sendo a espinha dorsal emocional da história, vem cedo demais para ser processado com luto. A escolha narrativa não é casual: é desconcertante, proposital e serve para nos colocar exatamente onde Ellie está – desorientados, vazios e prestes a explodir. Joel não apenas morre. Ele é arrancado da série. E a ferida aberta disso será longa, talvez irreparável.
Bella Ramsey está excelente no episódio. Mesmo com pouco tempo para explorar as emoções da personagem de forma explícita, o que vemos no olhar dela já basta. A raiva contida, a dor silenciosa, a frieza que ameaça crescer. A Ellie dessa temporada vai precisar decidir entre se tornar uma versão de Joel — ou uma de Abby. E talvez, para sobreviver nesse mundo, não haja muita escolha.

O ataque a Jackson também eleva o nível de tensão. A invasão de infectados serve como pano de fundo para um episódio que fala muito mais sobre o que está por vir do que sobre o que se perdeu. E mesmo que o luto não seja plenamente explorado aqui, ele paira como uma nuvem densa. O episódio grita que nada será como antes.
Ainda assim, “Through the Valley” não é perfeito. A introdução de Abby e o peso que ela carrega ainda não convenceram por completo. Kaitlyn Dever entrega, mas falta ao texto espaço para que a personagem respire. A antipatia é inevitável, principalmente por ela ser o rosto da tragédia. A série vai precisar trabalhar muito bem os próximos episódios para humanizar Abby e justificar essa reviravolta sem deixar o público à deriva emocional.
Com a morte de Joel, fica a dúvida: The Last of Us ainda será capaz de carregar o mesmo peso emocional sem Pedro Pascal? Eu quero acreditar que sim. Flashbacks prometem preencher lacunas do passado, e há muito mais história para ser contada. Mas a ausência dele é um rombo difícil de ignorar.
No fim, esse episódio marca o verdadeiro começo da temporada. Um ponto de não-retorno para Ellie, para a série e para todos nós. A partir daqui, o que vem é sobrevivência emocional. E não existe cura para isso.