Depois de dois anos de espera desde o impactante final da primeira temporada, The Last of Us retorna com o episódio “Dias Futuros” — e o mundo da série está, ao mesmo tempo, irreconhecível e dolorosamente familiar. Enquanto para nós se passaram dois anos, para Joel e Ellie já são cinco. Tempo suficiente para que as feridas emocionais não apenas fiquem expostas, mas também criem cicatrizes difíceis de ignorar.
A série começa nos mostrando uma relação fria e distante entre os protagonistas. Joel tenta fingir que o afastamento se deve à adolescência rebelde de Ellie, mas ambos sabem que a verdade vai muito além disso: ela perdeu a confiança nele. A escolha que Joel fez no final da temporada anterior ainda ecoa com força — e neste episódio, fica claro que seu maior medo se concretizou. Ele salvou Ellie… mas perdeu ela de outra forma.
Pedro Pascal e Bella Ramsey continuam entregando atuações densas e sensíveis. Embora compartilhem poucas cenas juntos neste episódio, os momentos que dividem são carregados de subtexto. O silêncio entre os dois personagens fala mais alto do que qualquer diálogo — e os olhares trocados são suficientes para transmitir a dor, o ressentimento e o amor não declarado que pairam sobre eles.
Enquanto isso, o cenário também evoluiu. A cidade de Jackson, comandada por Tommy (Gabriel Luna) e Maria (Rutina Wesley), floresceu. Já não é apenas um abrigo improvisado — é uma comunidade em pleno funcionamento, com laços, cultura e vida. Esse novo ambiente traz à tona uma pergunta central: como continuar vivendo, e até reconstruir, após tanto tempo apenas sobrevivendo? A série começa a se distanciar da narrativa de “jornada” da primeira temporada e adota uma estrutura mais introspectiva, focada em temas como lar, pertencimento e o peso do passado.
No entanto, nem tudo flui perfeitamente. Algumas cenas que tentam reforçar a força de Ellie soam exageradas, quase como se a série estivesse tentando provar algo ao espectador. Essa insistência em mostrá-la como “badass invencível” pode soar artificial em alguns momentos, tirando um pouco da naturalidade da personagem, que sempre foi marcada por sua humanidade complexa, e não por uma invulnerabilidade forçada.
Ainda assim, The Last of Us acerta ao estabelecer um tom mais maduro e contemplativo para essa nova fase. A sensação de segurança em Jackson é sedutora, mas sabemos — e o episódio nos lembra — que essa paz é frágil. A tensão é constante, como se estivéssemos andando sobre um lago congelado prestes a rachar a qualquer passo.
“Dias Futuros” é um início sólido para a segunda temporada, com atuações intensas, novos personagens promissores e uma atmosfera emocional que continua a ser o maior trunfo da série. Não tão impactante quanto o início da primeira temporada, mas igualmente promissor em sua proposta de aprofundar os dilemas dos personagens.