Problema antigo e ignorado: biólogo expõe exploração de animais silvestres durante turismo em Manaus

Um vídeo publicado pelo biólogo Vinícius Ferreira, dono do canal “Papo de Biólogo”, tem causado grande repercussão nas redes sociais. Com mais de 200 mil seguidores, Vinícius fez um alerta contundente sobre uma prática comum e silenciosamente aceita por muitos turistas que visitam a região amazônica: a exposição e o uso de animais silvestres para fotos em passeios turísticos, especialmente nos arredores de Manaus.

De acordo com o biólogo, muitos desses animais — como jacarés, preguiças, macacos e araras — são capturados diretamente da natureza, mantidos em cativeiro e utilizados como atrativos fotográficos. Ele relata casos de animais dopados, aves com as asas cortadas, e até macacos presos de forma cruel em árvores para que estejam “prontos” para o momento da foto com os visitantes.

Vinícius também denuncia que, em muitos casos, as chamadas “comunidades indígenas” apresentadas aos turistas nem sequer são aldeias autênticas. Segundo ele, há agências de turismo que montam estruturas falsas e contratam pessoas — muitas vezes sem qualquer vínculo com povos originários — para se vestirem com trajes típicos e encenarem rituais com o objetivo de atrair turistas. “Esses povos indígenas que oferecem os animais silvestres pra vocês tirarem foto nem são povos indígenas de verdade, não seguem sua tradição, não seguem sua cultura”, afirma o biólogo no vídeo.

Ele destaca ainda que seu objetivo não é atacar a causa indígena, mas sim denunciar o uso cruel dos animais e o turismo predatório. “Não estou me metendo em pautas indígenas. A minha questão aqui são os animais e a exploração que eles sofrem nas mãos de pessoas — ribeirinhos ou não — que capturam esses bichos, maltratam e transformam em atrativos turísticos.”

Vinícius diz conhecer profundamente a região amazônica e o funcionamento de muitas dessas agências, pois atua na área há mais de dez anos. Ele é criador da Expedição Amazônia, projeto que organiza viagens conscientes para a floresta desde 2017. Segundo ele, o verdadeiro contato com a cultura indígena e com a natureza só é possível por meio de experiências autênticas, como a visita à comunidade dos Tatuyos, no Alto Rio Negro — comunidade da qual ele próprio afirma se sentir parte, após anos de convivência e imersão.

Turismo predatório: problema antigo e ignorado

Além das denúncias feitas por Vinícius, é importante destacar que essa é uma prática antiga em Manaus e em outras regiões da Amazônia. A atividade é amplamente conhecida — e, de certa forma, tolerada — por agências de turismo, turistas e até por órgãos públicos. Não é raro que o próprio guia informe aos turistas, antes da chegada aos locais, que haverá oportunidade para fotos com animais silvestres — deixando a decisão final a critério de cada um.

No entanto, é preciso deixar claro: essa prática é crime ambiental. Ribeirinhos e indígenas envolvidos também têm consciência disso, mas se beneficiam de brechas legais e da falta de fiscalização. Há relatos de prisões, mas os envolvidos são, frequentemente, soltos poucos dias depois.

Os animais, por sua vez, são tratados como mercadoria. Sucuris, jacarés, preguiças e outros são retirados da floresta e mantidos em condições precárias: caixas de isopor, papelão, presos em cordas. Ficam sem comida e sem água até estarem fracos o suficiente para não oferecerem risco aos turistas. Por isso, nas fotos, é comum ver os bichos inertes, com aparência debilitada — muitos em estado de quase morte. Após morrerem, são rapidamente substituídos por outros, em um ciclo cruel e aparentemente sem fim.

E quem fará algo por esses animais?

A denúncia do biólogo reacende uma discussão urgente: até quando essa realidade será ignorada em nome do turismo? Quem está disposto a romper com esse ciclo de sofrimento animal, mesmo que isso signifique repensar o modelo turístico atualmente praticado na Amazônia?

A conscientização, como propõe Vinícius, é um primeiro passo. Mas é preciso que autoridades, órgãos ambientais e a própria sociedade civil se mobilizem para proteger o que há de mais valioso na floresta: sua vida.

Redação Update

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