Fui assistir ao live-action de Minecraft mais pela curiosidade do que entusiasmo – afinal, como transformar um jogo tão aberto, feito de bloquinhos e possibilidades infinitas, em uma narrativa com começo, meio e fim? Além de não gostar pessoalmente do jogo, apesar de mais da metade de meus amigos já terem chamado para jogar. A surpresa veio logo nas primeiras cenas, quando percebi que o filme não estava preocupado em ser fiel ao jogo ao pé da letra, mas sim em capturar o espírito dele: a criatividade, a aventura e, acima de tudo, a brincadeira coletiva. Que era o que via nos meus amigos e achava bem legal ver eles animados jogando e criando.
Dirigido por Jared Hess (Napoleon Dynamite), o filme acompanha um grupo de adolescentes que, por acidente, vai parar dentro do universo de Minecraft. Lá, eles precisam unir forças com Gabriel (Jason Momoa, num papel mais doce e protetor do que o habitual) para impedir a destruição do Overworld. É curioso como Momoa já havia explorado algo semelhante em Slumberland, da Netflix, onde conduzia uma criança por um mundo fantástico.
Se Uma Aventura LEGO brincava com a metalinguagem e a quebra da narrativa para revelar um mundo fora do brinquedo, Minecraft – O Filme faz algo semelhante, só que de maneira mais sutil e intrínseca. Aqueles personagens têm problemas no mundo real — familiares ausentes, sentimentos de inadequação, solidão. Mas, diferente do que se espera, o jogo não é uma fuga. Ele é o meio que conecta essas pessoas. O lugar onde elas se encontram, se escutam e se fortalecem.
Lembrei muito de A Pedra Mágica (2009), do Robert Rodriguez, que vi quando era criança. Também ali, a fantasia surgia como um reflexo do que sentíamos por dentro, e não como uma fuga. assisti Minecraft ao lado de uma criança, e foi uma experiência bem divertida. A sala estava parcialmente cheia, era bonito ver como as crianças reagiam – rindo, torcendo, ficando tensas nas sequências finais. Tudo com respeito com a experiencia do próximo.

O filme acerta em não reforçar estereótipos antigos sobre quem joga videogame. Em vez da visão ultrapassada do jogador como alguém solitário ou agressivo, o que se mostra aqui é outra coisa: pessoas que encontram companhia, criatividade e até coragem nesses mundos imaginários. E que, no fim das contas, preferem viver a vida real, mas uma vida em que não se sintam sozinhas.
Minecraft – O Filme pode não revoluciona em nada. Sua trama é simples, e alguns momentos são claramente voltados para agradar os fãs do jogo. Mas há um coração pulsando forte ali. E talvez o maior elogio que se possa fazer seja esse: é um filme que entende que brincar, sonhar e criar são formas de estar com o outro.